tag:blogger.com,1999:blog-59925525480888495702024-03-18T21:27:31.901-07:00Enquanto vocês cresciam...Filhos crescem, eu sei. Mas, por medo que eles durmam bebês e acordem adolescentes, quero deixar aqui registradas as nossas principais passagens.Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.comBlogger24125tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-8143987379463200362016-06-28T14:00:00.000-07:002016-06-28T14:00:12.672-07:00Crianças seguem exemplos, não discursos<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
<span style="color: #666666;">Os meninos arrumaram filhos. A do Otto, uma boneca descabelada que alguma criança esqueceu aqui em casa. Do Tales, um urso de pelúcia de procedência também incerta. Carregaram pra cima e pra baixo os filhos o fim de semana todo. Hoje cedo fomos à feira e, evidente, quiseram levar as crias.</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
<span style="color: #666666;">"Tudo bem, mas cada um carrega seu próprio filho, combinado?"</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
<span style="color: #666666;">Mais que depressa o Tales arrumou um pedaço de pano e fez um sling. O Otto precisou de ajuda para copiar a ideia genial do irmã<span class="text_exposed_show" style="display: inline;">o.</span></span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; line-height: 19.32px;">
<span style="color: #666666;"><div style="margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
Na rua, eles foram a atração: meninos que brincam de boneca. Um grupo de pessoas passou e uma moça vibrou "aiii que lindos, olhem, eles estão carregando os nenês no sling, que fofura!". Outros olhavam com uma grande interrogação estampada no rosto. Nenhum impropério declarado, nenhum julgamento audível, mas muitos estranhamentos. O que, francamente, vivendo nesse mundo doente que a gente vive eu acho absolutamente normal.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Os meninos têm um pai presente, participativo, envolvido em todos os momentos da vida deles, muitas vezes até mais do que eu. Um cara que precisou quebrar uma pá de paradigmas para se tornar o pai que se tornou, o homem que se tornou. Não veio pronto. É um trabalho de desconstrução diário que ele QUER fazer, é um eterno abrir-mão de privilégios que ele teria somente por ter nascido nesse corpo. E ele ESCOLHEU o outro lado. Não sem dor, não sem muito debate. Mas por amor. Por vontade. E os frutos desse abrir-mão estão aí, filhos que entenderam que quem cuida de nenê é quem tem vontade de cuidar de nenê. Não tem a ver com gênero, tem a ver com amor. E aí eles saem de casa com filhos a tira colo e chocam a sociedade. Aquela sociedade que prega que só meninas brincam de boneca. Que meninas treinam pra serem boas mães. Onde, consequentemente, as mulheres carregam cargas pesadíssimas, solitárias e silenciosamente, quando vivem a maternidade ao lado de um cara que escolheu manter o status quo. Porque é uma escolha. Por mais prafrentex que eu fosse como mãe, se o cara que tá do meu lado não comprasse a briga comigo, fuéééém... Não haveria milagre. Porque crianças seguem exemplos, não discursos. E o mundo muda por meio do exemplo dessas pessoas, não do discurso delas.</div>
</span></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-40341558415473195032015-09-11T13:13:00.001-07:002015-09-11T13:13:45.844-07:00Sobre latidos e crises<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desde que os meninos nasceram nosso cãozinho Pierre adotou
um jeito bem peculiar de manifestar sua preocupação quando um deles chora: ele
late o latido mais agudo e estridente que conseguir na intenção de chamar nossa
atenção para que façamos com que o sofrimento da criança acabe. É bem
irritante, confesso, além de nada efetivo já que quando isso acontece primeiro
nossa atenção se volta a calar o latido para só então conseguirmos raciocinar
quanto ao choro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p>Outro assunto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há algum tempo venho colecionando angústias quando leio
notícias de tragédias. Não sei dizer em que momento da minha vida isso começou,
mas de uns tempos pra cá tem doído muito mais do que eu estava acostumada. Pode
ser porque hoje o acesso a informação é maior, pode ter sido a maternidade,
pode ter sido só um amadurecimento pessoal. Pouco importa. O fato é que hoje
meu nível de empatia é bem maior do que anos atrás.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os últimos dias estão especialmente mais pesados. Teve o
pequeno refugiado morto na praia, depois os índios Guarani-Kaiowá mortos por
fazendeiros e agora o menino Cristian morto pela polícia. E isso foi só o que
chegou para mim. Há quem opte por não ver, não querer saber. Eu entendo o
raciocínio dessas pessoas, e secretamente até os invejo. Já que não podem
ajudar o que adiantaria ficar sofrendo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Só que eu cheguei num ponto em que não consigo mais não ver,
não consigo mais me fechar numa bolha e tocar a vida. E isso me consome.
Especialmente porque não acredito mais que posso salvar o mundo pelo <i>facebook</i>,
foi-se o tempo em que me bastava compartilhar uma notícia indignante com uma
<i>hashtag</i> de impacto e imediatamente ir ler sobre outro assunto achando que fiz
minha parte. Não fiz porra nenhuma. Não mereço essa paz de espírito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sempre que digo publicamente que me incomoda o fato de eu
não me sentir fazendo diferença no mundo as pessoas arregalam os olhos e, com a
melhor intenção do mundo, tentam me convencer de que, sim, eu fiz alguma coisa.
Na maioria das vezes me lembram que meus filhos são o que de melhor eu já fiz. Balanço
a cabeça pra cima e pra baixo e desvio o olhar. Não era bem disso que eu estava
falando. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não há o que negar quanto aos meus meninos serem a minha
melhor parte, são mesmo. Mas eles não são eu. Eles são seres totalmente capazes
de seguirem os seus caminhos em busca de algo que lhes faça sentido. Mas achar
que ter colocado no mundo dois seres com capacidade de realizar algo que eu
queria ser capaz de realizar e não estou conseguindo seria suficiente para que
eu me sinta melhor é, além de egoísta, pouco pra mim. Colocar neles todas as
minhas expectativas frustradas é um fardo pesado demais para se dar para alguém
carregar. É uma insatisfação muito minha para que eu saia por aí distribuindo
porções para alguém pelo simples fato desse alguém ter saído do meu útero. Eu
libero vocês, filhos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É claro que a maternidade mudou a minha vida de tal forma
que hoje quase não reconheço aquela pessoa que fui. Só que eu não quero passar meus
dias me vendo nos meus filhos, preparando eles para viverem uma vida que eu
perdi enquanto os preparava para viver. Isso além de ser injusto comigo, é
injusto também com eles. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Então tá, não quero transferir para os meus filhos uma
necessidade que é minha. Ok, quanto a isso estamos conversados. Mas, e agora? <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E aí é que eu entro num <i>looping</i> infinito. Me dói, tenho
urgência em salvar o mundo, mas tô aqui sentada na frente de um computador
sendo teórica. Estou agindo feito meu cachorro diante do choro da criança.
Latindo o mais alto e estridente possível sem efetivamente fazer nada. E ainda
usando a energia de vocês que, na ânsia de aliviar meu sofrimento, vão tentar
me consolar.<o:p></o:p></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-36129111671502943512015-06-01T18:40:00.000-07:002015-06-01T18:40:09.230-07:00Me ajuda aqui?<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Lembro que minha mãe contava orgulhosa como eu fui uma criança que não deu trabalho. Um bebê bonzinho, que dormia a noite inteira, que quase não chorava. Cresci entre quatro irmãos, aprendendo no dia a dia a ser o mais independente possível, até por uma questão de logística numa família grande. Meus pais trabalhavam bastante e a gente foi ensinado desde cedo a se virar, a pedir ajuda somente quando não tivesse mais jeito. Nem sei se isso foi um ensinamento mesmo, é possível que eu que tenha entendido tudo errado. O fato é que em algum momento da minha vida eu entendi que não deveria incomodar, que pedir ajuda era ser fraca e que cada um deve se virar como pode. Enfim, cresci vendo a vida desse ponto de vista. Alguém se atreve a julgar meus pais? Jamais. Pessoas independentes são o que todos nós almejamos ser. Alguém discordaria disso? Só buscavam para os seus filhos o que de melhor poderia existir. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Cresci me virando, não pedindo ajuda pra quase nada, um orgulho. E assim foi também com os meus irmãos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Depois de uma certa idade, acredito que essa busca por não atrapalhar os outros se transformou em algo parecido com o sentimento de não ser merecedor da preocupação alheia. Não era justo fazer alguém se preocupar com um problema que é só meu. E é aí que a coisa pega. O não ser merecedor.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">As consequências são várias, e certamente vou voltar a falar disso, mas a pior que consigo ver é que agindo assim eu promovo um distanciamento natural das pessoas. Porque quem não pede ajuda, não recebe. E quanto mais a gente vive sem apoio, mais tem dificuldade em pedir. Porque pode segurar sozinha. Porque não quer incomodar. Porque não é merecedora de cuidado. Se torna um círculo vicioso: você se vira e dá conta de tudo, com isso conclui que é autossuficiente e pede cada vez menos ajuda. E cada vez mais se isola com uma carga pesadíssima pra carregar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF1859k8ugVhkRUJfdxok_L6ziX0Uglgfv7WiL9A04Pbot0j7dB3JqpRyKSRjAkPzuL3C2TeaOAmAPwDd_66t3uRn_58XI-n9_Y2NG6OXjTKk25kWngsr8Dpx7COxzqP4TLtUeLszQz5I/s1600/nao+perturbe.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="110" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF1859k8ugVhkRUJfdxok_L6ziX0Uglgfv7WiL9A04Pbot0j7dB3JqpRyKSRjAkPzuL3C2TeaOAmAPwDd_66t3uRn_58XI-n9_Y2NG6OXjTKk25kWngsr8Dpx7COxzqP4TLtUeLszQz5I/s400/nao+perturbe.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu demorei tempo demais pra descobrir que é num momento de aperto que a gente descobre pessoas disponíveis e com potencial de se tornar bons amigos. Que os laços de uma amizade não se estreitam magicamente em uma tarde agradável passeando no parque. Mas estar disponível quando alguém está em dificuldade tem um poder incrível. Que ligar pedindo uma mão quando a coisa aperta, também. As pessoas tendem a ser solidárias, empáticas, humanas, quando alguém está em uma situação de necessidade. Porque, afinal, é uma troca. Oferecer uma ajuda é quase mais reconfortante do que receber uma ajuda. É uma relação retroalimentada que tem fim em si mesma. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas aí vem a vida moderna e nos incentiva a viver sem pedir ajuda. Ela dá um valor monetário para o que poderia ser um favor. Pagamos uma babá pra podermos ter um jantar romântico num sábado a noite, enquanto poderíamos pedir pra um parente que sempre se mostra disponível ficar com os meninos. Só que não queremos incomodar. Levamos pra terapia algo que poderia ser resolvido numa conversa olho no olho com um amigo que saiba oferecer empatia. Mas não podemos atrapalhar. Compramos tudo pronto pro aniversário dos filhos, enquanto poderíamos chamar umas amigas pra ajudar a enrolar os brigadeiros, exatamente como foram as nossas festinhas de aniversário. Só que não queremos perturbar as pessoas. E os laços vão ficando frágeis. As relações, frias. Sem trocas, sem cuidados, sem favores. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu estou me esforçando no sentido de recuperar relações que nunca chegaram a existir. Aproveitar as oportunidades que o universo nos dá de estreitar e fortalecer as relações humanas. A maternidade me fez sentir essa necessidade de fazer parte de uma comunidade, de pertencer a uma tribo. É mais seguro, creio, educar filhos amparada por uma rede de apoio e deve ser daí que vem essa minha nova necessidade. Ainda erro muito, ainda sou muito resistente em assumir que, sim, preciso de uma mão, que preciso de apoio. Anos de programação mental me sabotando. </span><span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ainda não me sinto completamente segura para pedir apoio, confesso, mesmo depois de todas essas conclusões. É um caminho longo mas espero que esse seja o primeiro passo.</span></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-24389126988236722652015-05-25T20:31:00.001-07:002015-05-25T20:31:52.225-07:00E isso me basta...<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Durante um bom tempo da minha vida eu imaginei que seria uma executiva.
Que viveria em função do dinheiro, do trabalho, do poder. Me imaginava num
cargo importante, me imaginava vestindo tailleur, me imaginava tendo uma
secretária. Em almoços de negócios, reuniões em que eu falaria inglês, viagens
a trabalho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Aí o tempo passou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E hoje, me vendo aqui deitada há horas ao lado de duas criaturinhas
adormecidas que exalam um cheirinho de suor digno de ser engarrafado como
perfume, pelas quais eu sou capaz de matar e morrer, não consigo parar de
pensar no quanto a vida da gente dá voltas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nós não temos mais dinheiro do que precisamos, nosso carro é popular,
moramos numa casa antiga e financiada. Não temos planos de viajar pro exterior,
só compramos roupas em promoção, não somos sócios de um clube. Eu provavelmente
vou me aposentar trabalhando na mesma repartição, ganhando o mesmo salário. Não
temos grandes ambições. A Vanessa de uns 10 anos atrás me acharia a maior
perdedora. E, quer saber? Tudo bem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Hoje temos coisas que eu jamais imaginava que teriam tanto valor: temos
todas as manhãs livres, fazemos todas as refeições juntos, uma pizza e
um vinho bastam pro sábado a noite. Temos bons amigos sempre em casa, temos
filhos sendo cuidados por pessoas em quem confiamos, temos um casamento
saudável. Temos uma cama enorme em que, vez ou outra, dormimos os quatro
juntos. Temos um abraço silencioso quando tudo desanda. E isso, pra Vanessa de
hoje, basta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbmsghc2cCsAYEgeWnd-q-4d8D-rPqKZ1nvB9tJRVJea1ualChDXMEdjOcSZtA95CpeCOTpZDGKpsHliB_5eOFaGT9RLY5Xjs1l2VlCDWVLpMFJhSSksUtn2eF19BnktAc8MVnolk2Lwo/s1600/nos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbmsghc2cCsAYEgeWnd-q-4d8D-rPqKZ1nvB9tJRVJea1ualChDXMEdjOcSZtA95CpeCOTpZDGKpsHliB_5eOFaGT9RLY5Xjs1l2VlCDWVLpMFJhSSksUtn2eF19BnktAc8MVnolk2Lwo/s320/nos.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-54072826791889406662015-04-05T15:42:00.000-07:002015-04-05T15:43:26.756-07:00"Mãe, você sabe o que é ovo de Páscoa?"<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Foi o que eu ouvi do Tales essa semana.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E </span><span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">a minha cabeça foi longe. Poderia ter respondido:</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"Páscoa, Tales, é sobre um moço que tentou ensinar amor ao mundo. Tentou ensinar as pessoas a sentirem a dor do próximo como sendo a sua dor. Só que o mundo entendeu tudo errado. Então na Páscoa, ao invés de distribuirmos amor gratuitamente, compramos chocolate. Passamos a vida nos atacando, nos julgando, nos odiando, cada vez mais distantes uns dos outros, mas no dia da Páscoa nos presenteamos com ovos de chocolate. Por isso, pra mim, esse dia não tem sentido algum."</span></div>
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não sou cristã. Não porque não acredito em Jesus Cristo, acredito sim. Acredito que foi um moço bacana, bem intencionado, com o coração cheio de amor ao próximo, coisa que eu respeito e admiro. Mas pra mim, parou aí. Ou melhor, antes tivesse parado aí. O que eu vejo por aqui não é nada nem próximo do que o cara lá tentou ensinar. O que vejo por aqui me faz concluir que não sou cristã. Não mesmo. Não quero estar do mesmo lado dos que pregam ódio ao diferente, dos que distorcem tudo e usam sua influência para manipular as massas. Prefiro buscar outros caminhos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
</span><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Do dia em que comecei a pensar sobre espiritualidade até chegar ao dia em que eu falei em voz alta que não sou cristã se passou um bom tempo. Anos. Não é um raciocínio baseado em senso comum, pelo contrário. O senso comum me levava ao cristianismo. E eu hoje fujo dele.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
</span><span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
O que não quer dizer que não tenho as minhas verdades, as minhas crenças pessoais, os meus princípios espirituais. Não sou ateia, embora compreenda quem seja. Só não me sinto à vontade tendo um salvador. Não é do meu perfil entregar toda a minha vida a um ser divino e esperar que ele me leve pelo caminho certo. Sou uma questionadora nata, sou uma chata em potencial, não consigo me conformar em não estar no comando da situação. Às vezes me pego pensando como seria melhor delegar essa função, seria como ter com quem dividir a culpa caso algo saísse errado. Acredito verdadeiramente que quem consegue fazer isso tem mais facilidade de ser feliz. Mas, de verdade, pra mim não serve. E não é nada pessoal com o tal do Jesus, acho mesmo que ele é um cara bacana. E se pra você ele é o salvador, pronto, então ele é o salvador. E sinta-se um privilegiado pois eu gostaria de conseguir sentir isso. Eu não subestimo a tua fé, por isso, me sinto no direito de esperar que você não subestime a minha não fé. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
Claro que é cedo pra falar sobre isso com o Tales, nem sei quando e como esse assunto vai surgir, se é que vai surgir. E espero também que demore pois ainda há muito o que ser problematizado para que eu, quem sabe, algum dia possa falar que tenho certezas sobre o assunto. Por enquanto, me limito a responder pontualmente às perguntas dele, sem entrar no mérito da espiritualidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
E quanto à pergunta sobre ovos de Páscoa, respondi da forma mais verdadeira e objetiva que consegui:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
"Ovo de Páscoa é chocolate, Tales."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
E é mesmo, não é? Não menti. Deveria significar mais coisa, mas não. Não significa. </div>
</span><span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><br />
<div style="-webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; font-size: 17px; text-decoration: -webkit-letterpress;">
<br /></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-63262952240178256892015-03-25T13:45:00.000-07:002015-03-25T13:51:25.902-07:00...divagações matinais...<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc7GZ7Z-3q0jUVkqWxoIvbDAte5pSdMS4krI1X24nEeOA78BqPsaenUzYgQ3Vng2orXMc9yGujGGW49eJ3gWKt3U0drVTODWg_aGfKc3jUh8IiyXkSpRwZPiw2ttpeTBpI1eFI3ULkWUk/s1600/Sobre_abra_os.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc7GZ7Z-3q0jUVkqWxoIvbDAte5pSdMS4krI1X24nEeOA78BqPsaenUzYgQ3Vng2orXMc9yGujGGW49eJ3gWKt3U0drVTODWg_aGfKc3jUh8IiyXkSpRwZPiw2ttpeTBpI1eFI3ULkWUk/s1600/Sobre_abra_os.jpg" height="237" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Era uma daquelas manhãs em que, depois de uma noite cheia de interrupções, sentia cada músculo reclamar a exaustão da falta de descanso noturno. Entre um bocejo e uma exclamação de dor, seu corpo encontra aconchego em um abraço calmo vindo de quem possivelmente sentia o mesmo cansaço. Dividiam secretamente o mesmo abatimento e compartilhavam o mesmo algoz. O breve instante de paz fora interrompido prematuramente por aquele que os observava com um sorriso largo e que, ao encontrar uma pequena brecha, se fez pertencer àquele momento como quem o completava. Invadiu-lhes um sentimento de pertencimento, como se naquele momento todas as intempéries da noite passada se fizessem abafadas pela mais sincera manifestação daquele amor.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-14915502639525075142015-03-20T14:29:00.000-07:002015-03-20T14:29:38.580-07:00O que você faria por você mesma?<div style="text-align: justify;">
Tenho convivido com a crônica sensação de que estou errando. Não com os meninos, pelo contrário. É em prol da felicidade deles que destino boa parte da minha energia diária. Gosto dessa dedicação, faço por amor e por vontade, mas devo confessar que me consome. Depois que voltei a trabalhar, tenho a sensação de que a vida se tornou uma sucessiva repetição de comandos que têm como finalidade somente a própria sobrevivência. Há pouco espaço pra algo que fuja dessa rotina. Me pergunto se não tinha que ser mais do que isso. Tinha? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A rotina é desgastante e a nossa opção de terceirizar o mínimo possível da educação dos meninos nos sobrecarrega. Sei que o Julio também se sente assim, só não fala. A diferença é que ele não abandonou as atividades que faz por ele mesmo, futebol e tal. É um refúgio, coisa que eu não tenho. Por opção, talvez, mas não tenho. Sobra para o Julio a maior parte da carga, já que os meninos passam 2 dias por semana em casa e o solicitam bastante. Apesar de tudo, é lindo de ver o vínculo deles ficando ainda mais forte. Quem no mundo pode ter esse contato diário tão intenso com o pai? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não posso reclamar do meu trabalho, tenho noção de que nado no mar de privilégios que o serviço público oferece. O que me mata é olhar pela janela e ver a vida passando enquanto eu estou enfiada numa repartição. Apertando botões. Por dinheiro. Ser só mãe era diferente, mesmo que bem mais puxado. Era sufocante, era estressante, era puro cansaço físico, mas era uma entrega ideológica. Era a gente fazendo a vida acontecer e não só vendo ela passar. Mas esse post nem era sobre trabalho. Era sobre o quanto eu me exijo em busca da felicidade deles. Do quanto, nessa jornada, eu vou me perdendo de mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No olho do furacão, fazendo malabarismos diários para manter toda a engrenagem funcionando, olho pra mim e tento enxergar o que ficaria se eu não tivesse o cargo de mãe. O que ficaria se só houvesse a Vanessa, sem o "mãe do Tales e do Otto" para me definir. Fico sem resposta. Seria um erro tentar voltar a ser quem eu era antes da maternidade, não sou mais aquela e nem quero ser. Mas, quem sou eu, então?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Engraçado é que essa reflexão vem em um momento em que eu me sinto tão emocionalmente livre. O Otto não exige nem metade da entrega emocional que o Tales exigia nessa idade. Não sei dizer se o Tales me exigia ou se eu é que dependia daquela entrega. Pouco importa. Quando o Tales nasceu eu me fechei em um casulo e ficamos fusionados por uns 3 anos. Ele não vivia sem mim, eu morreria sem ele. Eu não tinha necessidades que não envolvessem ele, eu não existia sem ele, eu era ele. E isso não é uma reclamação. Aquilo me fazia feliz. Só de imaginar sair do trabalho e ir pra um happy hour sem ele me dava pânico. Eu queria estar com o meu filho, sempre, o tempo todo. Já o Otto é de uma autossuficiência incrível. Sinto que a ligação que ele tem com o Julio é tão forte quanto comigo. Não me sinto mais insubstituível como me sentia, e olhe só, gosto disso. Eu amo estar com ele, sinto uma saudade que chega a doer quando ficamos algumas horas separados. Mas é um sentimento mais maduro, mais calmo, menos passional. Não tem nada a ver com amar menos. Acho que está mais para uma maturidade emocional da minha parte. Tenho várias teorias pra explicar isso, mas todas ficam no campo do achismo, então, deixa pra lá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa liberdade emocional que eu tenho agora me trouxe uma necessidade que eu não estava acostumada a ter: pensar em mim. Mas que esbarra na loucura que é a manutenção da vida. A rotina, os horários, tudo tão urgente, tão engessado a ponto de não me permitir sequer ter um tempo só pra mim. Tudo é prioridade, menos eu. Até porque, até esses dias, esse "eu" nem existia. Tudo era pra eles, tudo era por eles. Eu era eles. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E quando falo em ter tempo pra mim, você aí pode estar pensando que tenho planos muito ousados. Que nada. Quero conseguir organizar minhas ideias, escrever, ler, relaxar minha mente. Claro que uma escapada com algumas poucas amigas num começo de noite depois de colocar os meninos pra dormir não me soa mal. Mas o que mais preciso nesse momento é estar comigo. Sinto falta de mim. Sinto falta de fazer algo por mim mesma. Será o fim do meu <a href="http://enquantovocescresciam.blogspot.com.br/2014/02/puerperio-bem-mais-que-emagrecer.html" target="_blank">puerpério</a>?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyknfTRiPUEJrsRUrxq83QLZ9QoIHcFv84gqkAZctVOZVq389Zm0G1BlNOVMOuLOclCLQCMLVsiaU0omEKzeFov2BDZk6JzoB2QNl2RthLSGTsybKH5rxbW8eU2sRHwIdZgJ3cx0dG0Ic/s1600/amar1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyknfTRiPUEJrsRUrxq83QLZ9QoIHcFv84gqkAZctVOZVq389Zm0G1BlNOVMOuLOclCLQCMLVsiaU0omEKzeFov2BDZk6JzoB2QNl2RthLSGTsybKH5rxbW8eU2sRHwIdZgJ3cx0dG0Ic/s1600/amar1.jpg" height="203" width="320" /></a></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
"Se você tivesse uma amiga que exigisse de você o quanto você se exige, quanto tempo você permitiria que essa pessoa fosse sua amiga?<br />Se você tivesse uma amiga que te tratasse da mesma forma como você se trata, quanto tempo você permitiria que essa pessoa fosse sua amiga?"</blockquote>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-10745670726775773722015-01-21T12:16:00.000-08:002015-01-21T12:24:56.453-08:00De volta a velha vida<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNT4Nl4PpYFVKN0AtLCUhyphenhyphen2O5D3vxeZyhJ182xDSZZfaJkhatKkgGNgNsYWndtvru0unAlsQixkw7gtmXGYGvIJKDrQm8NGruT6Q9fuFiKGVLmPNeQyThFY8rv3lvPq_0cqSZIZo2ehp8/s1600/mafalda-trabalho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNT4Nl4PpYFVKN0AtLCUhyphenhyphen2O5D3vxeZyhJ182xDSZZfaJkhatKkgGNgNsYWndtvru0unAlsQixkw7gtmXGYGvIJKDrQm8NGruT6Q9fuFiKGVLmPNeQyThFY8rv3lvPq_0cqSZIZo2ehp8/s1600/mafalda-trabalho.jpg" height="154" width="320" /></a></div>
<br />
E o ciclo se fechava ali, na manhã ensolarada da primeira quarta feira do ano de 2015: oficialmente eu deixava a função de mãe em tempo integral pra voltar a ser a mãe que trabalha fora. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fiquei um ano em casa. Um ano em que eu cresci uns 10. Um ano que valeu mais do que boa parte do que eu já vivi durante toda a minha vida adulta. Um ano em que eu precisei tomar decisões que me levaram a viver coisas que eu jamais teria vivido por pura inércia. Sabe aquela história do "não se acostume com o que não te faz feliz"? A gente se acostuma, sim. E bem fácil. E por preguiça. E só vê que a mudança foi o melhor que poderia acontecer depois que passa o desespero inicial.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi nesse ano que tiramos o Tales da escola. Na época, a atitude foi considerada uma loucura por 10 em cada 10 pessoas em sã consciência. Afinal, eu tinha um bebê recém nascido em casa e, sabe né, dá trabalho. Nós tomamos a decisão sem certeza de nada, foi uma atitude baseada em amor, nada mais. E foi lindo, do começo ao fim. Se é que já teve um fim. Tê-lo com a gente em tempo integral, acordar junto, fazer todas as refeições juntos, passar a tarde brincando, conhecer os seus amigos imaginários, estar disponível pra ser o colo que ele busca quando algo não sai como o imaginado, isso foi o exercício de maternidade mais pleno que eu poderia ter. Tê-lo deixado na escola teria sido mais cômodo, mas bem menos vivo. Ele não estava feliz, tampouco eu. Só que a gente se acostumaria, não tenho dúvidas disso. A resiliência é uma qualidade humana um tanto ingrata. Faz você se acostumar e se adaptar ao que não te faz bem. Há algum tempo alguém me falou que bom mesmo é o filho que traz problemas, porque tira a gente da inércia. Hoje eu concordo em absoluto. E sou muito grata ao Tales por me fazer enxergar mais isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por ter o Tales fora da escola, passei o ano em busca de lugares onde ele pudesse interagir com crianças, mas onde eu também fosse bem vinda. Não queria largar ele e ir embora. Queria ficar observando como ele se saía, já que ele vinha de um período difícil de insegurança. Eu queria algo que eu nem sabia se existia. E os dias foram passando, a vida tomando um rumo tal que quando eu me dei conta nós estávamos passando quase todas as tardes na <a href="http://www.labirintosludicos.com.br/" target="_blank">Casa Labirinto</a>. Um lugarzinho fofo, com uma atmosfera leve, um clima de sexta feira a tarde e cheiro de casa de vó que nos acolheu e nos ganhou pra sempre. A ideia da casa é ser um lugar lúdico em que a criança se sinta livre para ser somente criança. Sem preocupação com o pedagógico, com a alfabetização, com o currículo, com a grade horária. Nada mais do que brincar. Tipo um recreio em tempo integral. Pronto, era isso que eu procurava! Lá eu conheci pessoas que tornaram a minha jornada, sempre tão exaustiva, mais leve. Conheci pessoas com um estilo de vida que eu quero pra mim. Gente que anda por um caminho tão de luz que só irradia coisas boas por onde passa. Gente que, muitas vezes sem saber, salvava meus dias. Me fazia ter certeza de que era por aí o caminho, e que eu não estava sozinha nessa busca. Gostamos tanto que o plano agora é levar o Tales e o Otto para passar algumas tardes lá enquanto eu trabalho. Foi a melhor alternativa que conseguimos para fugir da escolarização.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como esse foi um ano em que eu me dediquei completamente aos meninos, claro que teria que faltar de algum lado. A rotina é cruel quando se tem dois filhos pequenos e se passa o dia todo na função. Nesse ano meu casamento foi se modificando de tal forma que se alguém conseguisse prever o futuro e me contasse que ia ter um final feliz eu faria uma cara de interrogação, totalmente desacreditada. É uma conquista diária manter a paz no relacionamento a dois quando o caos de uma casa com duas crianças toma o lugar do romantismo. Mas, aos poucos, não sem muita conversa, não sem muita lágrima, a gente vai encontrando um amigo onde antes havia um amante. Vai encontrando um amor maduro no lugar de uma paixão louca. Vê que o amor se manifesta em pequenos gestos. Que o casamento é baseado em pequenas trocas. E vai vendo que o que vale mesmo é isso, o dia a dia, o companheirismo, a parceria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E com a chegada do fim de ano o fantasma da volta ao trabalho começava a me assombrar. Nesse ano todo eu não passei um dia sequer sem tentar encontrar uma forma de não precisar mais terceirizar uma parte da criação dos meus filhos. Fui e voltei milhares de vezes de idéias furadas, que nunca saíram dos planos. E, bom, como você deve estar percebendo, não encontrei solução, voltei a trabalhar e optamos pela via menos impactante pra eles. Escola era a nossa última opção. Eu sinto que errei com o Tales ao escolarizá-lo tão cedo e seria um absurdo repetir isso com o Otto. Optamos por, num primeiro momento, deixá-los em casa com uma babá. A ruptura me parecia menos abrupta já que eles continuarão em ambiente familiar. O pai trabalha em casa e está disponível quando a saudade bate. A rotina segue a mesma de quando eu estava presente, a alimentação, a soneca no meio da tarde sem hora pra acabar, o cheiro de casa, o aconchego. Então agora passam algumas tardes em casa e outras na Casa Labirinto. E com a consciência de que tudo é tentativa e erro. Se não funcionar, mudamos tudo outra vez. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aí chegou o primeiro dia de volta à velha vida. E foi tudo de uma leveza, de uma naturalidade, que me fez sentir uma certa vergonha da auto importância que eu me dava. É engraçado como a gente se prende a papéis (eu, no caso, o papel de mãe insubstituível) e, especialmente quando se gosta muito do papel que "representa", a gente se agarra naquilo como se isso fosse quem realmente somos. E a gente luta com toda força, tenta se convencer a todo custo que estamos ali tão somente porque se saírmos, a casa cai. Só que não cai. E a sensação de ver que não cai é ainda melhor do que aquela falsa ilusão de que carregamos o mundo nas costas. É libertador. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje faz duas semanas que estou passando as tardes longe deles. Ainda não me encontrei totalmente no ambiente de trabalho. Talvez porque eu sou uma pessoa bem diferente da que saiu. Um ano vendo a vida de outro ângulo muda muitos paradigmas. Mas como trabalho com pessoas maravilhosas, cada uma a sua maneira, e temos um ambiente bom, não é nenhum sofrimento passar o dia lá, pelo contrário.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E, aos poucos, tudo vai começar a fazer sentido novamente.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-61182162278382096452014-10-27T18:57:00.000-07:002014-10-27T19:09:09.609-07:00Vai, filho... ouse!<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white; line-height: 19.3199996948242px;">Não deixe que te digam o que você não vai conseguir fazer. Não siga a manada, não leve a vida no modo automático, repetindo padrões sem questioná-los. </span><span style="background-color: white; line-height: 19.3199996948242px;">Gente que busca alternativas, que desvia do padrão, que olha para os lados, que se analisa, é gente que dá trabalho. Sair da zona de conforto, não fazer como todo mundo sempre fez só porque sempre foi assim, questionar, debater e argumentar. Isso tudo nos leva a mudanças. Mudanças de padrões que nos mantém acomodados em uma perfeita ilusão. </span></span><br />
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white; line-height: 19.3199996948242px;"><br /></span></span>
<span style="background-color: white; color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.3199996948242px;">Ousar é viver no modo manual, é tomar as rédeas da vida, é escrever sozinho a sua própria história. Você vai errar, claro que sim. Mas só erra quem ousa tentar. Quem foge do caminho pré determinado, da linha reta, do quentinho e seguro. </span><span style="background-color: white; color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.3199996948242px;">Quem vai em busca de descobrir o que faz sentido pra si, solitariamente.</span><span style="background-color: white; color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.3199996948242px;"> </span><br />
<span style="background-color: white; color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.3199996948242px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.3199996948242px;">Sempre haverá o medo de não estar fazendo as escolhas certas, já que não há certezas por esse caminho. A dúvida será sua parceira constante. Não é fácil destoar do bando. Não mesmo. Não é fácil pensar fora da bolha, mas eu te garanto que aqui fora tem muito mais ar. </span></div>
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span>
<span style="background-color: white; color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.3199996948242px; text-align: justify;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.3199996948242px; text-align: justify;">Vai, filho... Ouse! Vão te dizer que enciclopédia não foi feita pra servir de escada pra alcançar a pia, mas nem ligue. Adultos costumam ter um olhar limitado, temos dificuldade em enxergar o que vocês estão vendo. Nos acostumamos com o seguro, o enfadonho, o convencional. Por isso, ouse! Por você, por nós. </span><br />
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #999999; line-height: 19.3199996948242px;">No seu tempo, busque as suas verdades, do seu jeito.</span></span></div>
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white; line-height: 19.3199996948242px;">E não esqueça: se algo der errado, estaremos aqui pra te ajudar a levantar.</span><span style="background-color: white; line-height: 19.3199996948242px;"> </span></span></div>
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span>
<span style="color: #999999;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i class="_4-k1 img sp_LWp1MpKGrs1 sx_160c3b" style="background-color: white; background-image: url(https://fbstatic-a.akamaihd.net/rsrc.php/v2/yP/r/90b8T5aM1AH.png); background-position: 0px -7850px; background-repeat: no-repeat; background-size: auto; display: inline-block; height: 16px; line-height: 19.3199996948242px; vertical-align: -3px; width: 16px;"></i></span><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaw4G375CVyC_0o5OnnAq64l266q3dM4ozAf97oqj_w6Ts03fWHR3b1k8F2GeJ_mpDl9vErLvNW5Z0ZbtMEHs87G1nwQ_8qSCOnQB2Z0qCmWTcL_DXTNvAPFq0IXyDOnfjD0bRUIfjEnw/s1600/enciclopedia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: #999999; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaw4G375CVyC_0o5OnnAq64l266q3dM4ozAf97oqj_w6Ts03fWHR3b1k8F2GeJ_mpDl9vErLvNW5Z0ZbtMEHs87G1nwQ_8qSCOnQB2Z0qCmWTcL_DXTNvAPFq0IXyDOnfjD0bRUIfjEnw/s1600/enciclopedia.jpg" height="320" width="179" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-87949958272016993382014-04-14T19:52:00.001-07:002014-04-14T19:52:36.198-07:00Quando nasce um irmão, nasce o ciúme...<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aí o Julio chega em casa e diz:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>“Vanessa, precisamos conversar. Em alguns dias vou trazer
para casa uma outra mulher, uma mulher muito bacana, vocês poderão ser muito
amigas. Você precisará entender e ser madura o suficiente para me ajudar com a
adaptação dela, afinal o começo será difícil para todos nós. Para que ela se
sinta protegida, nos primeiros meses ela é quem vai dormir comigo, mas não se
preocupe, você vai ganhar um quarto lindo só pra você! Vou pegar uma licença no
trabalho para poder ficar com ela em tempo integral mas seria bom que você
continuasse indo todos os dias trabalhar, porque eu não conseguiria dar atenção
a vocês duas juntas. Eu disse a ela que não trouxesse muitas roupas, que você
emprestaria as suas, aquelas que você não usa mais, sabe? Ah, o pessoal está
louco para conhecê-la, logo que ela chegar iremos receber muitas visitas e
provavelmente trarão presentes pra ela. Espero que você não sinta ciúmes,
afinal eu amo vocês duas igualzinho.”</i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E aí?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Claro que essa historinha não é real, eu li algo parecido
com isso em um livro de um pediatra espanhol e achei perfeito pra me colocar no
lugar do Tales e entender o que se passa na cabeça de uma criança que ganha um
irmão, guardadas as devidas proporções. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O Tales e eu sempre tivemos uma conexão emocional muito
grande, o senso comum definiria como “são muito grudados”. Ele mamou no peito
até pouco mais de 2 anos, e isso ajudou bastante na criação de um vínculo
emocional bem forte. Eu sentia que eu era o porto seguro dele. Só eu. Segurança
em forma de leite. Aí ele foi desmamando, foi crescendo, o vínculo foi mudando.
Não ficou mais fraco, mas ficou diferente. A sensação era de que ele agora
confiava também em outras pessoas, não mais só em mim. Se saciava em outras
fontes. Não éramos mais uma só emoção para dois corpos. E isso pra mim nunca
foi algo ruim, confesso que me senti até aliviada quando percebi o que estava
acontecendo: meu bebê estava crescendo. Eu não era mais insubstituível. Um
grande alívio para uma pessoa que, depois que se tornou mãe, desenvolveu um
medo absurdo da morte. Medo de faltar para alguém com quem eu tinha um vínculo
vital.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esse vínculo eu poderia definir como sendo um pequeno fio,
em que eu segurava em uma ponta e ele na outra. Ele até poderia ir longe de
mim, mas sempre segurando a ponta do fiozinho. Sempre sabendo pra onde voltar.
Até o dia em que ele se sentiu seguro para ir até onde o fio não alcançava e
então precisou largar. E foi. E encontrou coisas muito bacanas por lá, pessoas
boas, um mundo novo. Mas pouco tempo depois de ter largado o fio, percebeu que
alguém agora estava segurando no lugar que era seu. E se ele precisasse voltar?
E se tivesse errado ao largar? E se algo acontecesse de ruim, pra onde ele
correria? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O que ele ainda não sabe, e é nossa obrigação como pais ensinar,
é que esse fiozinho imaginário só tem função enquanto a gente ainda não conhece
o caminho de volta. Depois de um tempo, mesmo sem esse referencial, já fomos e
voltamos tantas vezes que conhecemos o caminho e sabemos que nosso lugar estará
sempre lá. Podemos deixar que outra pessoa menos experiente segure na ponta do
fio, pois já não precisamos mais dele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5XZcQJV1okCpvpD-Z_Ki74soB5ICRBvlQgjUHL78BreDa8Uugn9vDwqtbh99jteav5KhoXFxZSlCmFBhNrFjXNRyqXNu-t7n6qjCyBik0Ck3bFwmZae0RTRGgj_FB89xTMt-d6rav0Eo/s1600/ciume.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5XZcQJV1okCpvpD-Z_Ki74soB5ICRBvlQgjUHL78BreDa8Uugn9vDwqtbh99jteav5KhoXFxZSlCmFBhNrFjXNRyqXNu-t7n6qjCyBik0Ck3bFwmZae0RTRGgj_FB89xTMt-d6rav0Eo/s1600/ciume.jpg" height="213" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aqui em casa tivemos um início bem tranquilo, chegamos até a
comemorar timidamente o fato de o Tales não estar enciumado com a chegada do
irmão. O que seria totalmente antinatural, eu sei, já que ele tem apenas 2
anos. As primeiras duas semanas foram bem atípicas, ele estava encantado. Mas
passado o período de euforia, imagino que ele pensou: “Deu né, neném? Acabou a
graça, pode ir embora agora!”. E não, ele não foi embora. E o ciúme bateu
forte. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aos poucos estamos encontrando formas de mostrar a ele que
nada mudou, que o Otto veio para somar e não dividir. Mas que o ciúme é um
sentimento legitimo e que estamos aqui para acolhê-lo e ajudá-lo nessa fase difícil.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-63859814049298101752014-04-11T14:59:00.000-07:002014-04-11T14:59:13.043-07:00E que a minha loucura seja perdoada... <div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma farsa. Era isso que eu me
sentia, uma mentira. Eu nunca acreditei que escola é o lugar ideal para uma
criança pequena. Rotina rígida, horário fixo, obrigação de ir todos os dias
para o mesmo lugar, não era o que o meu filho precisava nessa idade. Essa era
uma obrigação social minha, que eu assumi por livre vontade quando resolvi
trabalhar fora. Ele não. Ele não escolheu isso, nem precisava disso, era algo
que eu impus a ele por falta de opção. Isso sempre esteve muito claro pra mim,
já até falei sobre isso <a href="http://www.enquantovocescresciam.blogspot.com.br/2013/10/o-tales-foi-um-bebe-muito-planejado.html" target="_blank">aqui</a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aí eu engravidei do Otto. Aí o
Otto nasceu e cá estou eu, em casa o dia todo, de licença maternidade. E a
farsa começou. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu sempre quis ficar em casa cuidando
dos meus filhos em tempo integral, nunca escondi de ninguém esse meu desejo.
Trabalho fora por dinheiro, se me pagassem o que eu ganho pra ser só mãe eu
topava fácil. Mas agora eu estava em casa e continuava levando o Tales pra
escola. Contra tudo o que eu acredito e, pior, contra a vontade dele. Faça o
que eu digo, não faça o que eu faço. Eu era uma fraude.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E não estava fácil levar adiante.
Todos os dias, desde a hora de colocar o uniforme era choro. Era choro e pedido
para não ir pra escola. Era choro pra entrar no carro, era choro pra sair do
carro, era choro pra entrar na escola. Era eu chorando em casa sozinha o resto
do dia. Era eu tentando me acostumar com o que me matava por dentro. Eu sabia
que precisava fazer alguma coisa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os conselhos chegavam de todos os
lados: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Não ceda, ele está te
manipulando”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Toda criança chora, é normal,
logo ele acostuma”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Ele tá com ciúmes do irmãozinho,
o meu também passou por isso, nem ligue”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Criança não tem querer, escola é
obrigação”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu tenho péssimas lembranças de
escola na minha primeira infância. Não lembranças de fatos em si, mas de
sentimentos. Angústia. Solidão. Só de pronunciar o nome da escola que eu
frequentava quando era bem pequena me dá um nó no estômago. Já da escola que eu
fui quando era um pouco maior (uns 4 anos) eu tenho ótimas lembranças.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na ânsia de achar “culpados” fui
atrás de outra escola, tentando me convencer que o problema era aquela escola.
Quem eu queria enganar? Conheci uma escola linda, com uma pedagogia
diferenciada (waldorf), mais leve, aconchegante, com cara de casa de vó, fiquei
super animada. Passamos algumas semanas analisando, tentando tomar uma decisão
em meio a muito choro. O Julio foi contra mudar de escola. Voltamos à estaca
zero.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um dia o Tales falou uma frase
que me fez ver que aquele embrulho no estômago que eu ficava depois de levá-lo
chorando pra escola era o melhor indicador de que eu estava errando, e errando
muito. Eu estava trocando a fralda do Otto, que chorava. O Tales chegou perto
dele e disse: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Pare de chorar, neném... senão
você vai pra escolinha, heim?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aquilo foi o tapa na cara que eu merecia. O
que eu estava fazendo? Pro Tales, escola era punição.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Marcamos uma reunião com a pedagoga
da escola. Fui com 5 pedras na mão, esperava ouvir conselhos no mesmo estilo
dos que eu já vinha ouvindo dos outros. A conversa começou com faíscas, com
frases no estilo “crianças são espertas, elas te manipulam”. Taquei minhas
primeiras pedradas. Aos poucos a conversa foi tomando outro rumo, menos institucional
e mais humana. Menos cérebro e mais coração. Menos pedagógica e mais materna. Fomos
acolhidos, apoiados, compreendidos. Saímos de lá com o apoio que precisávamos
para tirar o Tales da escola com a tranquilidade de que ele poderá voltar no
ano que vem, se quisermos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E assim está nossa vida agora, de
cabeça pra baixo com 2 crianças em casa. Como vai ser daqui pra frente? Não
sabemos muito bem. Mas sabe aquele embrulho no estômago? Sumiu.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAT2GLjgRB7xXNK0nGYBjvBd50Je1_DUxlNITZQbioT1nICvcoxBsX1zRdBQLEJiy7UaBu0cFaytbmeM_bcIEz5ibSePTb0Fx5bEJtMZ6pnYFlpTPP_IS1Y75LWnVxMpswOb0ay6cdXyI/s1600/loucura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAT2GLjgRB7xXNK0nGYBjvBd50Je1_DUxlNITZQbioT1nICvcoxBsX1zRdBQLEJiy7UaBu0cFaytbmeM_bcIEz5ibSePTb0Fx5bEJtMZ6pnYFlpTPP_IS1Y75LWnVxMpswOb0ay6cdXyI/s1600/loucura.jpg" height="320" width="226" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-63349242268987058802014-03-23T13:52:00.002-07:002014-03-23T13:52:17.779-07:00O parto do Otto<div style="text-align: justify;">
2h da manhã. Uma cólica. Fraca. Eu estava dormindo, acordei com o barulho do Julio se preparando pra dormir. Será? Sempre me falaram que quando fosse realmente a hora eu saberia, então se eu não tinha certeza, provavelmente não era. Volto a dormir. Outra cólica. Era a hora. Chegou o momento que eu esperei tanto. Mas vai demorar, claro. Vou tentar dormir. Mais uma. Como eu esperei sentir aquilo, difícil até de acreditar que o momento chegou. Preciso marcar o intervalo das contrações. Irregulares, bem espaçadas, dor muito suportável, vai demorar muito. Queria dormir, mas não conseguia. No auge de uma contração o Julio acorda e percebe que estou com dor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Tá tudo bem? Tá com dor?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Contrações, mas estão bem irregulares, pode dormir porque vai demorar.”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Mas, como assim? Já é contração de parto?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“É, mas é só o começo, pode demorar muito. Não se preocupe que eu estou bem.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As dores foram ficando mais intensas, mais próximas, mas ainda sem ritmo. Fui pro banho. Tomei banho com a luz apagada, pra não despertar, queria voltar a dormir ainda. A água morna caindo na lombar aliviava toda a dor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
3h. Volto pra cama, sem roupa, enrolada na toalha. As dores agora vinham com mais força e com mais frequência, mas ainda sem ritmo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Ainda tá doendo?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Tá. Mas pode dormir, não vai acontecer nada antes de amanhecer”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
……..</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Contração, contração, contração.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
……..</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Está vindo com mais frequência, né? Será q não é a hora de ir pra maternidade?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Não, não é assim, Julio. Só vou quando estiver insuportável.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[Eu queria ir pra maternidade o mais tarde possível porque normalmente o trabalho de parto evolui melhor e é mais rápido em um ambiente em que a parturiente se sente segura. Com muitas mulheres o trabalho de parto acaba estacionando quando a mulher chega na maternidade. Aí, inevitavelmente, ela acaba sendo sujeita a intervenções médicas para acelerar o parto, o que aumenta a dor e também os riscos, especialmente pra quem, assim como eu, teve uma cesárea prévia.]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
…….</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
4h40. Escuto um “ploft”, como se fosse um bexiga estourando. Levanto rápido e instintivamente coloco a toalha no meio das pernas. Era a bolsa estourando. A toalha era branca, deu pra ver que a água estava escura. Meu obstetra havia me alertado a observar a cor da água, se a bolsa rompesse em casa. “Caso seja clara fique tranquila e observe as contrações. Caso seja escura, me ligue imediatamente.” Era escura.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[A água fica escura pelo cocôzinho do bebê, o que pode indicar que ele está em sofrimento. Embora somente este fato não signifique nada isoladamente, é preciso avaliar outras coisas para afirmar, como o batimento cardíaco fetal]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Julio, a água. A água esta escura.”</div>
<div style="text-align: justify;">
“E agora? Vamos pro hospital!?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Calma, vamos ligar pro Dr. Alvaro.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Não atende, Vanessa! Melhor a gente ir pro hospital!</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[Nessa hora eu senti medo. Eu sabia que a água escura não era um bom sinal, meu bebê poderia estar em sofrimento, eu precisava fazer alguma coisa. Mas eu também sabia que chegar numa maternidade cesarista com bolsa rota, água escura, provavelmente sem dilatação e sem o meu obstetra… pfff… era cesárea de emergência mesmo que estivesse tudo bem com a gente! Mas ok, vamos. Eu realmente não contava com aquela água escura. Perdi o chão. Mas eu não poderia colocar meu bebê em risco. Dane-se o meu parto.]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As contrações ficaram muito fortes depois de romper a bolsa. Mal conseguia andar. Ajoelhava no chão. Uma contração atrás da outra, poucos segundos pra respirar. Desço e sigo em direção ao carro, parando a cada contração. A dor é bem forte, começa nas costas e irradia para o baixo ventre. Eu massageava a lombar numa tentativa em vão de aliviar um pouco. Totalmente em vão. Mas a dor não é constante, é como uma onda, começa leve e vai aumentando até o ponto que você pensa que não vai mais aguentar, ai ela começa a diminuir e some completamente. E você ganha alguns segundos pra respirar e se preparar pra próxima.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O trajeto até a maternidade é longo, uns 6 km, mas nessa hora eu já não estava mais nesse plano. A dor intensa tira a racionalidade, leva a gente pra um estado de consciência diferente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chegando na maternidade o Julio foi fazer o internamento e eu de cócoras no meio do corredor tentando achar uma posição que aliviasse, em vão. Escutei alguém gritando chamando uma enfermeira. Me levaram pra sala de triagem. Aí começou a minha luta contra o falido sistema obstétrico tradicional brasileiro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[O sistema tira da mulher o protagonismo do parto, tira da mulher a confiança no seu corpo, infantiliza a mulher a ponto de fazê-la acreditar que não é capaz de parir sem intervenção médica, que seu corpo é defeituoso. Um sistema que leva diariamente milhares de mulheres para uma grande cirurgia, desnecessariamente. A maioria destas mulheres queria parir, mas a série de erros e violências que ela sofre desde que dá entrada na maternidade a fazem ter certeza de que ela não é capaz. E pior, que foi “salva” pela cesárea. Eu não queria mais fazer parte dessa estatística.]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Tá de quantas semanas?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“41”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Bolsa rota?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Sim”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Deita na maca que o obstetra já está vindo te avaliar”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Não consigo deitar, prefiro ficar aqui. Me dá um copo d’agua?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Não pode tomar água, preciso que você deite pra ele te examinar”</div>
<div style="text-align: justify;">
“ok”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chega o obstetra plantonista. Ouve o coraçãozinho do bebê, tudo bem. Faz o toque, sete centímetros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“É teu primeiro filho?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Não, segundo”</div>
<div style="text-align: justify;">
“O primeiro foi parto ou cesárea?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Cesárea”</div>
<div style="text-align: justify;">
“E esse vai querer cesárea também?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Não”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Ok, estamos tentando falar com o teu obstetra, enquanto isso vamos pro centro obstétrico”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Eu preferia esperar meu médico chegar no quarto”</div>
<div style="text-align: justify;">
…risos da equipe plantonista…</div>
<div style="text-align: justify;">
“Não dá, mãezinha”</div>
<div style="text-align: justify;">
…</div>
<div style="text-align: justify;">
“senta na cadeira de roda pra eu levar você, mãezinha”</div>
<div style="text-align: justify;">
“eu prefiro ir andando”</div>
<div style="text-align: justify;">
“você não vai conseguir”</div>
<div style="text-align: justify;">
“eu não vou sentar, eu vou andando!!”</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[Chamar a parturiente de "mãezinha" ao invés de chamá-la pelo nome, dizer o que ela não vai conseguir fazer, são exemplos de como se infantiliza uma mulher. Mulheres infantilizadas têm medo, se sentem incapazes. Não seria mais honesto encorajar a mulher neste momento?]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Julio foi fazer a papelada do internamento e eu fui pro Centro Obstétrico. Fomos direto pra sala de parto, que sinceramente deveria se chamar “sala de cirurgia” porque não é uma sala preparada para parto, absolutamente. É perfeita pra te operarem, não pra você parir.</div>
<div style="text-align: justify;">
A enfermeira me ofereceu analgesia, eu não quis. Pediu pra que eu deitasse que meu médico logo chegaria e saiu da sala. Não deitei, fiquei acocorada no chão, era a posição que me deixava mais confortável.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[A posição horizontal é a menos indicada para o parto normal, porque é contra a gravidade, além de aumentar muitíssimo a dor. O mais indicado é que a parturiente fique na posição que ela escolher. Só durante o trabalho de parto ela consegue saber como quer ficar. Ficar na posição que se sente mais confortável diminui drasticamente a chance de laceração.]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Entraram duas enfermeiras na sala conversando entre si, mexendo em agulhas, acessos, etc. Uma fala pra outra “eu trouxe o sorinho, será que ela vai querer, porque não quis nem analgesia…” Eu me meti na conversa dizendo que não queria. Elas saíram da sala.</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[O "sorinho" é ocitocina sintética, usado para acelerar as contrações e fazer o trabalho de parto durar menos tempo. Quando se usa o sorinho a dor aumenta desumanamente, além de não ser indicado para quem tem uma cesárea prévia, já que faz o útero se contrair artificialmente, aumentando o risco de ruptura uterina devido a cicatriz da cesárea.]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Voltaram pedindo pra que eu deitasse na maca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Moça, deite na maca, pela posição que você está o teu bebe está quase nascendo, é melhor você deitar”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Eu não consigo deitar, prefiro ficar assim!”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Continuo ali no chão, acocorada e sozinha. Peço pra chamarem meu marido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Calma, ainda não é a hora, quando estiver nascendo ele vem”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A enfermeira insiste que eu preciso deitar na maca, eu me nego.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Se você não deitar na maca teu bebê vai nascer e cair de cabeça no chão, você quer isso?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Se é só essa a ajuda que você pode me dar, eu dispenso… pode me deixar aqui sozinha que eu sei o que é melhor pra mim e pro meu filho”</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[Tudo que eu precisava nessa hora era acolhimento, era incentivo, era alguém pra me falar que estava tudo bem e que tudo daria certo, não alguém me dizendo q meu filho cairia no chão. Fui muito grossa com a enfermeira nessa hora e não me arrependo.]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela sai da sala e eu fico sozinha de novo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Entra o obstetra plantonista</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Eu preciso que você deite na maca porque não vai dar tempo do teu medico chegar então eu vou fazer o teu parto”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Eu já falei que não vou deitar e eu não preciso que você faça o meu parto, eu sei o que fazer e farei sozinha”</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[Essa frase "fulano fez meu parto" sempre me incomodou. Em condições normais o médico não faz nada, quem faz todo o trabalho é a mulher.]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele não ficou muito contente, mas não insistiu. Sentou e ficou só me olhando. Tive outra contração forte e gritei algo como “aaiii, me ajude”… o obstetra falou “ué, você não disse que sabia o que fazer e faria sozinha?”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Passada a dor, me vi sozinha novamente na sala.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Comecei a sentir uma vontade imensa de empurrar, de fazer força. Incontrolável. A dor sumiu totalmente, só sentia uma pressão no assoalho pélvico e minha barriga baixou assustadoramente. Saiu o tampão mucoso, bem maior e mais cheio de sangue do que eu imaginava. A cada contração eu empurrava e sentia a cabecinha coroando e voltando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Vai nascer, chama meu marido!!!”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Entraram o médico e as enfermeiras novamente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Moça, é sério, você não pode ter esse bebê aí no chão, eu vou te ajudar a subir na maca, não precisa deitar se não quiser, mas suba na maca!”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“ok, mas eu não vou deitar…”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nessa hora lembro que olhei bem pra cara do médico e disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Doutor, eu não quero episio, de jeito nenhum!”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Tudo bem, mas suba na maca”</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[Episiotomia é o corte feito no períneo para supostamente facilitar a saída do bebê. As evidências cientificas mostram que nenhuma episio é necessária, porque não ajuda em nada, não previne laceração já que é pior que uma laceração. Episiotomia é crueldade, é mutilação genital. Porém, a maioria dos médicos a faz sem ao menos consultar a parturiente.]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Subi na maca e fiquei de cócoras. Pedi pra chamarem o Julio. Me deixaram sozinha de novo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sentia a cabecinha coroando e voltando. O Julio chegou e se assustou por eu estar sozinha, não entendeu nada. Ele esperava algo parecido com a cesárea, esperava que ia assistir e não participar. Eu não consegui explicar nada do que eu tinha passado, só disse pra ele ficar ali comigo, e ele ficou. Na próxima contração o bebê coroou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[É impressionante o controle que a gente tem do períneo, coisa que eu nem sonhava. Eu estava “segurando” o bebê já há algumas contrações, quando me vi segura, relaxei o períneo para que ele coroasse. Se eu estivesse anestesiada não teria esse controle] </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pedi pro Julio olhar:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Julio, olhe lá, saiu a cabecinha…”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Meu Deus, saiu a cabeça, o que que eu faço, vou chamar alguém!!!”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Não, calma, tá tudo certo, é assim mesmo, não chama ninguém. Pega aquele pano e se prepara porque na próxima contração vai sair o bebê inteirinho e você precisa segurar.”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Mas não é melhor eu chamar o médico, e se acontecer alguma coisa?”</div>
<div style="text-align: justify;">
“A única coisa q vai acontecer agora é esse bebê nascer! Se prepara que é agoraaa…”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Veio a contração, sem dor nenhuma, só a vontade de empurrar. Senti o Otto saindo inteirinho de dentro de mim. Um alivio indescritível. Uma sensação de poder, de domínio do meu corpo, coisa que eu jamais havia sentido antes. Eu só pensava que se eu fiz isso, eu faço qualquer coisa! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Julio pegou o Otto, enrolou no pano e me deu. Encolhidinho, chorou forte, alto. Eu estava em êxtase.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZb_71ML6JqPKc5j7De9CoxOXEnS_Y7ZJdcyRttkQ81ZRcjdxmB4ButMTdfqAEB2Ut4d6LMS3uNaQt3cbqgULhBrLxxwu5M-TIqPGksKhQRnz70WoMS9aB9S3xjoe5Fif0o4dD4wfp0EY/s1600/otto+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZb_71ML6JqPKc5j7De9CoxOXEnS_Y7ZJdcyRttkQ81ZRcjdxmB4ButMTdfqAEB2Ut4d6LMS3uNaQt3cbqgULhBrLxxwu5M-TIqPGksKhQRnz70WoMS9aB9S3xjoe5Fif0o4dD4wfp0EY/s1600/otto+2.jpg" height="320" width="240" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Agora eu vou chamar um médico, Vanessa…”</div>
<div style="text-align: justify;">
“HAHAHA, agora você pode chamar quem você quiser!”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Entraram todos, obstetra plantonista, enfermeiras, pediatra…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pedi pra ficar com o bebê por um tempo, eu queria dar o peito antes de levarem ele para os exames. O pediatra concordou. Sugeriu que eu tirasse a roupa e colocasse o bebê em contato com a minha pele e assim tentasse amamentar. Fiquei com ele um bom tempo assim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[As evidências mostram que amamentar o bebê na primeira hora de vida, assim como colocá-lo diretamente na pele, favorece a descida do leite e a criação de vínculo entre a mãe e o bebê.]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O obstetra disse que precisava tracionar a minha placenta, que ainda não havia “nascido”. Eu neguei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Eu queria esperar ela sair naturalmente, com as contrações”</div>
<div style="text-align: justify;">
“É que as vezes ela não sai sozinha e é preciso dar uma puxada”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Vamos esperar pelo menos mais uma contração então”</div>
<div style="text-align: justify;">
“Mas não tem porque esperar…”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu estava cansada demais pra continuar aquela discussão, por sorte o pediatra que estava na sala ouviu e interferiu:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Doutor, faz o que ela tá pedindo, não custa…”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A contra gosto ele esperou e a placenta saiu inteira na primeira contração.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não satisfeito, ele queria cortar o cordão desesperadamente. Eu pedi pra esperar parar de pulsar. Ele argumentou. O pediatra novamente interferiu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Dá pra esperar sim, vamos esperar”</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>[Enquanto o cordão está pulsando, o sangue da placenta está indo para o bebê, o que previne a anemia no recém nascido.]</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois de cortado o cordão, fiquei ainda alguns minutos com o Otto nos braços, amamentando. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pouco antes de levarem ele para pesar e examinar, chegou o meu obstetra, esbaforido e se desculpando. Não havia do que se desculpar, nem nos meus melhores sonhos eu imaginaria que meu trabalho de parto fosse ser tão rápido. Ele demorou cerca de meia hora, mas já era tarde. Ele me examinou para ver se não havia laceração. Nada. Uma pequena escoriação, mas que não seria preciso nenhum ponto. O Julio foi com o pediatra acompanhar os procedimentos no bebê e depois nos encontramos no quarto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
...........</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Otto nasceu às 6h da manhã do dia 30/01/14, com 3750g e 52cm, apgar 10 e 10, de 41 semanas e 5 dias de gestação, depois de 4 horas de trabalho de parto sem nenhuma intervenção médica, aparado pelo pai em um parto natural hospitalar desassistido.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com33tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-47619238590068422602014-02-15T13:22:00.000-08:002014-02-15T13:31:55.629-08:00Puerpério: bem mais que emagrecer, sangrar e amamentar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUKAn_nGzAdE5u3bV9hxQLJ_q0PHdg8A8SQyIF24NjyGUMgeLjaAlHf5n8IiFarycN0I3bKj35Ww32RFEmRMgBzR3HHH7yoQeX6rjOGPC2KRJyo41d409EKe36gMv4nBEx8AFToGlth90/s1600/puerperio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUKAn_nGzAdE5u3bV9hxQLJ_q0PHdg8A8SQyIF24NjyGUMgeLjaAlHf5n8IiFarycN0I3bKj35Ww32RFEmRMgBzR3HHH7yoQeX6rjOGPC2KRJyo41d409EKe36gMv4nBEx8AFToGlth90/s1600/puerperio.jpg" height="320" width="249" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Por favor, pare de ler esse texto se você ainda não é mãe. Provavelmente você não será capaz de compreender o que uma mãe sente no período pós-parto e
eu não preciso do seu julgamento.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não se trata de estar ou não feliz. Não tem a ver com felicidade,
absolutamente. O puerpério, que começa com nascimento do bebê e não tem prazo
para acabar, é um período de sombras. Meu corpo que tenta se recuperar do
parto, que por mais natural que tenha sido, sempre deixa marcas físicas. Meu
útero que sangra incessantemente. O bebê que mama na mesma intensidade em que eu
emagreço. E eu tentando me encontrar nessa nova rotina, na função de mãe de
dois. Aprendendo a ser mãe de um segundo filho recém-nascido, um serzinho que
exige dedicação exclusiva em um momento em que eu não posso me dedicar exclusivamente
a alguém sem me sentir culpada por estar negligenciando o mais velho. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Bom, até aqui, você que não é mãe e optou por continuar lendo,
ainda consegue entender que pode não ser um período fácil, não é? Perder sangue,
emagrecer e amamentar o tempo todo, além de ter várias noites mal dormidas pode
ser bem desagradável, certo? Certo. Mas não se trata exatamente desse tipo de
problema físico. E é a partir daqui que mães e não mães se dividem em dois
grupos. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O puerpério é morte. Morte daquela que eu fui, morte daquela
vida que eu tinha. Tudo novo, de novo. Aquela Vanessa está morta, mas ninguém vai
perceber, por isso ninguém vai chorar por essa morte, somente eu. O puerpério é
solidão. É se sentir absolutamente sozinha mesmo cercada de pessoas. O puerpério
é perder a identidade. É não se identificar mais com aquela gestante ansiosa pelo
parto, mas também não conseguir ainda se enxergar como mãe de dois filhos. Estar
no puerpério é passar dias com um choro entalado na garganta e não conseguir
encontrar um motivo digno para chorar. É não ter coragem de compartilhar sua
solitária dor com alguém por medo de ser incompreendida. Porque você sabe que
será. Afinal, você teve uma gestação tranquila, teve o parto que queria, tem um
filho perfeito, um marido companheiro, formou uma família linda. Não tem direito
de estar triste. E mesmo que você encontre uma alma que vibre na mesma sintonia
e se sinta segura para falar, você não saberá o que falar. Não há um motivo
para o choro, não nesse plano, não um motivo palpável, claro, que possa ser definido
racionalmente. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esse é meu segundo puerpério, e como toda segunda experiência,
esta sendo mais leve. Já conheço bem o gosto amargo dos sentimentos que me
judiaram da primeira vez. Não posso dizer que somos amigos, eles ainda são
capazes de me sufocar, mas o fato de saber que eles existem dentro de mim facilita
uma convivência sem tanta resistência. E talvez essa seja a palavra chave, ao
menos pra mim: não resistir. Não tento mais vencê-lo ou ignorá-lo, me entreguei
e vivo esse momento por inteiro, por mais difícil que possa parecer. É uma fase
única de contato com as minhas mais profundas sombras e eu não quero deixar
isso passar em vão. Assim como eu escolhi
um parto sem nenhum tipo de anestesia porque eu queria sentir tudo, sentir meu
corpo, me autoconhecer, novamente eu escolho viver essa experiência sem filtros,
sem anestésicos, sem fugas. Eu quero viver intensamente este puerpério e não
somente sobreviver a ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #37404e; font-family: "Tahoma","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><br /></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="color: #666666;"><span style="background: white; font-family: "Tahoma","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">“Há a velha eu partindo e a nova eu habituando-se a si mesma. E há uma
forte amizade entre ambas. Muiticoexisto coesa. Há entre a velha e a nova uma
gratidão enorme que amansa medos. Uma consciência que sorri para tudo o que
fui. Consciência que flui em ritmo de autosororidade. A nova gentilmente
aguarda o momento em que a velha se sinta pronta para ir, sem despejos. A velha
sente que a nova é bem-vinda. Elas se abraçam, conectadas e belas como o brilho
de uma verdade sentida </span><span style="background-color: white; font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 8pt; line-height: 115%;">e vivida com intensa profundidade." Natacha Orestes</span></span></blockquote>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-15694177529568021852014-01-25T08:05:00.001-08:002014-01-25T08:09:34.038-08:00Carta de uma mãe para o seu primogênito<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEuwLuqa0Wp-fPwp6gozh_9QGIZ0NZ2sTH-IkigXc0TFoijl_1I_YliCsDVMBnVd5jqRlawpmBKE1yPZnluBAc1odp1LXAr-r7yyS1We4U_RjW9XBjab44YvpiLluslU4ZGl81Lf0vyps/s1600/meninos.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><i><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEuwLuqa0Wp-fPwp6gozh_9QGIZ0NZ2sTH-IkigXc0TFoijl_1I_YliCsDVMBnVd5jqRlawpmBKE1yPZnluBAc1odp1LXAr-r7yyS1We4U_RjW9XBjab44YvpiLluslU4ZGl81Lf0vyps/s1600/meninos.JPG" height="240" width="320" /></i></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Tales,</i><br />
<i><br /></i>
<i>Em alguns dias você deixará de
ser filho único e se tornará irmão mais velho, um posto que você vai ocupar pelo
resto da vida. Durante pouco mais de dois anos fomos só nos três, eu, você e seu
pai. Nesse período aprendi a ser mãe por tentativa e erro e você foi a cobaia
dessa experiência. Sou feliz pela pessoa que me transformei por meio de você e
te serei grata por isso eternamente.</i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i>
<i>Logo vamos trazer pra casa um bebê
com quem você precisará dividir minha atenção. Durante algum tempo ele não vai se
mostrar muito interessado em você, mas eu garanto que isso vai mudar e você vai
ganhar um amigo em potencial.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Eu sei que só o laço de sangue não é uma garantia
de que vocês vão se dar bem, mas, acredite, isso não é o mais importante. Tendo
um irmão você terá alguém com quem dividir todas as alegrias e as tristezas de
ter nascido nessa família. Alguém com quem dividir todas as pesadas projeções
que os pais fazem para a vida dos filhos, mesmo sem querer. Alguém para ajudar
a guardar as lembranças da infância que vocês viverão juntos. Alguém com quem
dividir a inevitável dor que vocês sentirão quando seu pai e eu não estivermos
mais com vocês. </i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i>
<i>Talvez eu nunca consiga retribuir
toda a riqueza que você me trouxe ao me permitir ser tua mãe, mas nesse momento
a melhor coisa que posso fazer por você, meu filho, é ter outro filho. </i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i>
<i>Um beijo,</i></div>
<i style="text-align: justify;"><br /></i>
<i style="text-align: justify;">Vanessa</i>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-1502531993533059502014-01-24T10:08:00.001-08:002014-01-24T10:17:20.991-08:00Como passar de uma figura angelical para uma bomba relógio em um dia<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Hoje, 40 semanas e 6 dias da
minha segunda gestação. Fisicamente, me sinto enorme, mas ainda assim bem
disposta. Psicologicamente, gostaria de estar mais forte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Ter um final de gestação
digno era uma coisa que eu queria muito, já que na minha gestação anterior eu
pulei essa parte. Saí de casa para uma consulta de rotina com 37 semanas e
voltei dois dias depois com um filho no colo. Não tive tempo de ficar ansiosa,
de ficar inchada, de receber ligações diárias de gente querendo saber se já
nasceu. Nada do que pra maioria é insuportável consegue ser nem desagradável
pra mim nesse momento. Eu queria muito viver isso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Mas parece que a 40ª semana é
uma data cabalística em que você deixa de ser uma figura angelical e vira uma
bomba relógio. Por mais que a gente saiba que gestações humanas podem ir ate 42 semanas, precisamos ficar entoando internamente o mantra "cada dia a
mais é um a menos". É fácil se perder nessa hora, confesso. Especialmente
se você não estiver cercada de pessoas que acreditam em você e no poder do seu
corpo. Alem, obviamente, de estar sendo acompanhada por um obstetra
verdadeiramente humanizado e que acredite que o parto é um evento fisiológico e
não cirúrgico. O que tem me ajudado muito nessa fase tem sido ouvir palavras de
conforto de quem já teve experiências boas de parto. Porque é muito fácil pirar
e agendar uma cesárea. Mais do que nunca, não julgo quem o faça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsBwXN48CzR_rOiK9cskCPck2o4-DtLKMPgTvxh8l5IL9yHZW2v5ZvRViY9ytE3ktokOj8QRXpghGo3nd6LVczvRAGdq32iWRUDueQE_e91Ykz5ktkyM5HswGZxb4DrpWB2HVzKCXh0xA/s1600/Gr%C3%A1vida-segurando-meias-de-beb%C3%AA-com-rel%C3%B3gio-pintado-na-barriga.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsBwXN48CzR_rOiK9cskCPck2o4-DtLKMPgTvxh8l5IL9yHZW2v5ZvRViY9ytE3ktokOj8QRXpghGo3nd6LVczvRAGdq32iWRUDueQE_e91Ykz5ktkyM5HswGZxb4DrpWB2HVzKCXh0xA/s1600/Gr%C3%A1vida-segurando-meias-de-beb%C3%AA-com-rel%C3%B3gio-pintado-na-barriga.jpg" height="186" width="320" /></a></div>
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Logo eu que sempre fui
daquelas que, pra se sentir segura, precisava estar no controle de tudo. E
agora me vejo aqui, totalmente entregue ao acaso, a um tempo que não é meu, que
eu não posso controlar. Que eu não quero controlar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Eu tento administrar a
ansiedade pensando: bebês nascem! Sim, nascem. E, em condições normais como as
que eu me encontro, se ninguém intervir, eles nascem naturalmente. É só uma
questão de tempo. E de conseguir se convencer disso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Hoje tive outra consulta do pré-natal.
Nenhuma novidade, tudo sob controle. E meu obstetra continua me encorajando a
esperar, somente esperar. "Confie no seu corpo, não queira apressa-lo",
diz ele ao me ver ansiosa. E eu sigo confiando.<o:p></o:p></span></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-61143602606318212632013-12-06T07:21:00.002-08:002013-12-07T02:30:15.766-08:00Carta ao meu antigo obstetra.<div style="text-align: justify;">
Falar sobre parto, hoje em dia, é algo muito polêmico. Se você opta por um parto natural, então, dificilmente vai poder sair por aí falando isso abertamente. Essa semana me surpreendi positivamente quando uma pessoa que não tenho muito convívio, mas a qual eu admiro bastante por suas opiniões claras, me perguntou sobre como havia sido o parto do Tales e como seria o meu próximo parto. Eu contei da minha experiência e do que eu busco agora. Ao contrário do que muitas vezes acontece, não fui julgada, não fui chamada de louca, fui ouvida e acolhida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao dividir com ela o meu descontentamento com relação à cesárea que eu sofri, ela me surpreendeu contando também as suas experiências: 2 cesáreas indesejadas e desnecessárias. Aquilo me tocou tanto que só de lembrar me enchem os olhos de lágrimas. Já se passavam mais de 20 anos e ela ainda se emocionava ao dizer que gostaria que tivesse sido diferente, que sente muito por ter sido enganada pela médica, que roubou dela um momento tão precioso, pelo qual ela jamais irá passar novamente. Nós sentimos a mesma dor, em corpos diferentes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esse episódio me fez pensar muito. Não quero sentir o que sinto pra sempre, preciso fechar este ciclo. Com isso, tive a ideia de escrever para aquele que foi o protagonista do nascimento do meu filho: meu antigo obstetra. E foi ótimo, lavou minha alma. Com lágrimas.<br />
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i>Doutor,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Sei que o senhor não faz idéia de quem eu sou, então eu faço questão de te lembrar. Sou sua paciente desde a minha adolescência, quando fui levada ao seu consultório pela minha mãe, também sua paciente. Minha mãe, uma mulher que pariu naturalmente 3 dos 4 filhos com a ajuda do senhor, e num destes partos naturais eu vim ao mundo. Por suas mãos.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Nunca havia me consultado com outro médico, então quando resolvi que era hora de ter um bebê não tive a menor dúvida: seria o senhor o meu obstetra. Um dia cheguei ao seu consultório com um exame de gravidez positivo, milhares de dúvidas e muitos medos, mas pra mim o senhor era um porto seguro.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Nas consultas o senhor era sempre muito atencioso, me deixava muito a vontade. Quando eu expressava minhas dúvidas com relação ao parto, você fazia questão de me assegurar que o parto normal era o melhor para mim e para o bebê. Mesmo quando eu demonstrava medo, você me acolhia, me tranquilizava, me incentivava. Afirmava com orgulho que não fazia cesárea eletiva, que se uma paciente chegasse até o senhor com o pedido de agendar uma cesárea, você se negaria e indicaria um colega. Quanto orgulho eu sentia do obstetra consciente que eu tinha escolhido. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Numa noite de domingo o senhor foi incomodado por uma ligação minha: eu estava com dores e contrações. Eu sentia que algo não estava certo, fui pra maternidade e assim que lá te encontrei fiquei tranquila, agora eu estava segura. Você me fez acreditar que eu estava em trabalho de parto prematuro, mas que conseguiria inibir e segurar meu bebê por mais algumas semanas. Recebi alta em 2 dias e o senhor me indicou repouso absoluto, até o dia da próxima consulta.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Com 37 semanas e 1 dia de gestação, às 2 da tarde, eu estava em seu consultório para o que seria a última consulta do meu pré natal. Você cumpriu todos os protocolos que eu já conhecia, me pesou, mediu minha pressão, fez o toque, tudo ótimo. Ao ouvir o coraçãozinho do bebê, o senhor fez uma cara atípica e me disse algo que jamais sairá da minha memória: “seu bebê está em sofrimento”. Eu não entendia, eu não estava sentindo nada, como poderia meu bebê estar correndo risco sem meu corpo me avisar? Mas eu confiava no meu obstetra e o melhor a fazer era seguir as suas instruções. Eu ia ganhar meu bebê naquele dia. Perguntei como seria o parto, se seria possível ter parto normal e o senhor me garantiu que sim, que estava tudo sob controle e que não era pra eu me preocupar com isso.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>E assim, fiz tudo exatamente como o senhor me instruiu: fui pra casa, arrumei minhas malas e fui pra maternidade. Lembro que antes de sair do seu consultório, o senhor me pediu pra não esquecer de levar meu talão de cheques, para pagar os honorários da instrumentadora cirúrgica. Como pude não perceber que o seu plano era me operar depois de um pedido desses? Eu ainda não havia entendido que passaria por uma cirurgia, precisei chegar na triagem do hospital para que a enfermeira que me atendeu me desse a notícia: “sua cirurgia está marcada para que horas, Vanessa?” Oi? Cirurgia? Não, eu vou tentar parto normal. Ela me olhou com cara de espanto e falou que meu encaminhamento era para uma cesárea, mas que te ligaria para que o senhor me esclarecesse. Conversamos pelo telefone e você me deixou muito angustiada quando disse que poderíamos até esperar por um parto normal, mas que corríamos o risco de o bebê sofrer muito. O senhor acha que alguma mãe no mundo esperaria?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>E o final dessa história você já conhece, é igual para todas as suas pacientes. O senhor me operou mesmo sabendo que eu não precisava daquela cirurgia, meu filho foi apenas mais um que veio ao mundo com a ajuda do seu bisturi. Ele nasceu bem, teve ótimas notas de apgar, sugou meu peito perfeitamente depois que me recuperei da anestesia. Mas nós dois sabemos que ele não estava sofrendo e poderia ter ficado mais algum tempo dentro de mim, até chegar a hora que ele escolhesse para nascer, quando estivesse seguramente pronto. Felizmente, tudo o que poderia dar errado, não deu. E apesar de tudo, esse foi e sempre será o dia mais feliz da minha vida.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Então o senhor deve estar se perguntando agora: o que quer essa mulher afinal? E eu te respondo: quero te perdoar. Preciso fechar este ciclo. Estou grávida novamente e desta vez estou fazendo tudo diferente. Meu objetivo é parir meu segundo filho naturalmente e pra isso me informei e busquei ajuda de um obstetra humanizado, que me ajudou a abrir os olhos para a violência que eu sofri ao passar por uma cirurgia desnecessária. Caso algum problema aconteça, vou aceitar de coração aberto outra cesárea. O que eu não aceito é ser novamente enganada. Não guardo mais rancor do senhor, juro. Sei que a realidade do mercado obstétrico brasileiro é ingrata, que o senhor não é o único culpado, que é um problema multifatorial. Tem muita gente lucrando e isso não vai mudar tão cedo. Mas saiba: da minha parte, sinta-se perdoado.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Vanessa</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br />
Nota: É evidente que eu não mandei a carta para ele. Foi somente uma forma
que eu encontrei de expressar o meu perdão, algo que é importante somente pra
mim. Pra ele, eu sou só mais uma.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-30569616129918006722013-10-28T19:31:00.000-07:002013-10-28T19:37:55.936-07:00Por que diabos eu troco um boteco por um parquinho?<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #999999; font-family: inherit;"><span style="line-height: 115%;">Eu sou daquele
tipinho que se faz de surda quando o assunto é o chopp depois do expediente. Daquel</span>e
tipinho que foge dos programas que a maioria das pessoas definiria como “happy
hour”. Talvez muitos nunca tenham
entendido o porquê. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #999999; font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit; line-height: 115%;">Tal</span><span style="font-family: inherit;">vez só entendam meus motivos
quando tiverem alguém que os espera ansiosamente e que quando o vê lá de longe sai correndo e gritando</span><span style="font-family: inherit; font-size: x-small; line-height: 16px;">: </span><span style="font-family: inherit;">“mamãããããããee,
você veio!”. É o auge do meu dia. Entra no carro e desanda a contar como foi
sua tarde, o que comeu no lanche, qual musiquinha cantou, qual
coleguinha faltou e do que quer brincar quando chegar em casa. Essa é a única definição de </span><i style="font-family: inherit;">happy hour</i><span style="font-family: inherit;">
nesse momento da minha vida.</span></span></div>
<span style="background-color: white; color: #999999; font-family: inherit;">
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<span style="color: #999999; font-family: inherit; line-height: 115%; text-align: justify;">Eu acredito que com o tempo eu vou vol</span><span style="color: #999999; font-family: inherit; text-align: justify;">tar
a ter uma vida social mais parecida com a da maioria das pessoas que eu
conheço, mas ainda não é a minha hora. Não estou abandonando os amigos, mas
nesse momento tenho um novo melhor amigo e estar com ele virou
meu único programa preferido. Os amigos são bem vindos onde ele puder
estar junto, quando der pra conciliar, mas ele ainda é a minha
prioridade absoluta. Não me convide, se for um convite só pra mim no meu
horário de estar com ele, se não quiser ouvir um “não”.</span><span style="background-color: white; color: #999999; font-family: inherit;"></span><br />
<span style="background-color: white; color: #999999; font-family: inherit;">
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #999999; font-family: inherit;"><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 115%;">Ter fil</span><span style="font-family: inherit;">hos, pra mim, não é um
fardo que eu gostaria de me livrar sempre que possível. Não é nenhum sacrifício, é uma questão de prioridades. Por isso, por favor, não fique com pena de mim
quando eu disser que não tenho com quem deixá-lo. Talvez eu só não queira deixá-lo. </span></span><br />
<span style="color: #999999; font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<span style="color: #999999; font-family: inherit;">
</span><o:p></o:p></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-56116813026131673992013-10-27T10:07:00.000-07:002013-10-27T10:39:02.731-07:00Maternidade x carreira<div class="yiv4241644052MsoNormal" id="yui_3_13_0_1_1382892415360_3768" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span id="yui_3_13_0_1_1382892415360_3767" style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">O Tales foi um bebê muito planejado. Engravidei quando quis, porque quis, foi uma escolha muito consciente fruto de uma vontade que sempre existiu em mim, e que foi amadurecendo e se tornando real depois que conheci o Julio. Eu sempre achei super natural, antes de me tornar mãe, que bebês fossem pra escolinha muito cedo. Todo mundo faz, deve ser fácil, deve ser o certo. Tolinha.</span><br />
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="yiv4241644052MsoNormal" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
</div>
<div class="yiv4241644052MsoNormal" id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2891" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span id="yui_3_13_0_1_1382892415360_3746" style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Desde que comecei a planejar a gestação eu sabia que tiraria minha licença maternidade de seis meses e junto tiraria duas férias acumuladas propositalmente para esse fim, o que me renderiam 8 meses em casa. Bem suficiente, não? Não.</span><br />
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="yiv4241644052MsoNormal" id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2890" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
</div>
<div class="yiv4241644052MsoNormal" id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2772" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2771" style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Até hoje, um ano e meio depois que voltei a trabalhar, sofro de uma dor silenciosa e diária quando ele vem se despedir para ir pra escola. Pra mim, isso não é o natural, e não tente me convencer do contrário. Discursinhos do tipo: “Ah, porque criança que vai pra escola é mais independente, é mais esperta, é mais isso e mais aquilo” me dão vontade de vomitar. Não acho que uma criança pequena precise se desenvolver pedagogicamente. Criança pequena tem que brincar em tempo integral, sem regras, sem cobranças, sem horários, aprontar, comer terra, cair, se sujar. Tem que ficar grudado na mãe se sentir que precisa, mamar em verdadeira livre demanda, se sentir seguro por saber que a mãe estará lá sem prazo pra ir embora. Isso deve dar uma segurança incomparável. Eu considero isso como sendo o ideal, deveria ser a regra pelo menos nos 2 primeiros anos de vida, e não a exceção. Não consigo achar que meu filho estará melhor se precisar cumprir horários pré definidos, sendo cuidado por uma pessoa que não o conhece, que cuida simultaneamente de várias outras crianças, e que mesmo que o faça com carinho, não tem conexão emocional alguma com ele. Se você acha que alguém assim cuidaria tão bem quanto você, sorte sua, aposto que você sofre bem menos do que eu.</span><br />
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="yiv4241644052MsoNormal" id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2901" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
</div>
<div class="yiv4241644052MsoNormal" id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2903" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2902" style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Eu tenho um bom emprego, tenho estabilidade, ganho bem mais do que algum dia imaginei que ganharia, trabalho com pessoas com quem tenho muito prazer em conviver, tenho uma carga horária menor do que a maioria das pessoas que trabalham na iniciativa privada. Fazer carreira não é meu objetivo, não tenho problema em admitir que pretendo continuar batendo cartão naquela mesma repartição até o final dos meus dias úteis. Desde que comecei a trabalhar onde trabalho, a síndrome do domingo a noite simplesmente não me persegue mais. Eu estou exatamente onde eu queria estar. E é aí que entra o meu eterno dilema pessoal. Eu sou feliz trabalhando onde trabalho, muito provavelmente eu jamais conseguiria (sem anos de dedicação que eu não quero ter) algo parecido se abandonasse esse cargo. Me faz bem sair todos os dias e encontrar quem eu encontro, fazer o que eu faço, ter paz de espírito, a qual eu devo boa parte à tranqüilidade que eu sinto por ter o emprego que tenho.</span><br />
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="yiv4241644052MsoNormal" id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2907" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
</div>
<div class="yiv4241644052MsoNormal" id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2910" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2909" style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Acontece que, pelo menos uma vez por mês, me volta a sensação de que está tudo errado, de que eu fiz a escolha errada, que meu lugar era em casa com o meu filho. Eu sei que nasci pra isso, pra maternar em tempo integral. Nada no mundo me realizou mais do que ser mãe. Mas eu precisei fazer uma escolha, que eu considero que tenha sido muito consciente, mas foi uma escolha. E saber que é uma escolha, por um lado, me conforta: faz com que eu sinta que está comigo o poder de mudar meu destino quando eu quiser. O mercado é cruel? O mundo é capitalista? A sociedade vai me julgar? Sim, mas no final quem decide sou eu! Eu poderia largar tudo, dar um tchauzinho pro pessoal da repartição e ficar em casa. Ninguém aqui morreria de fome. Teríamos um padrão de vida bem baixo, evidente, mas daria pra viver. Eu acho, no mínimo, hipocrisia negar que isso é uma opção. Dói, mas eu prefiro assumir que, mesmo não tendo certeza de que estou fazendo a coisa certa, eu escolhi trabalhar fora. E já que eu escolhi, não faz sentido algum ficar me queixando, mesmo que eu sofra às vezes. Não é o que eu considero ideal, mas é o que eu quero fazer.</span><br />
<span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="yiv4241644052MsoNormal" id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2916" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
</div>
<div class="yiv4241644052MsoNormal" id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2913" style="font-family: HelveticaNeue, 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'Lucida Grande', sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span id="yui_3_13_0_1_1382892415360_2912" style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Eu solidarizo com as pessoas que deixam de lado por alguns anos seus planos profissionais para ficar com os filhos. Eu também os invejo, confesso. Assumir que os filhos são seu projeto de vida mais importante é algo admirável. A mim só resta torcer para nunca me arrepender da escolha que fiz. Até aqui o saldo é bastante positivo e enquanto eu estiver sentindo que estamos felizes vamos levando dessa maneira.</span></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-7789159437116392502013-10-07T19:59:00.002-07:002013-10-07T20:06:46.850-07:00Porque não compartilhar uma cama, quando se compartilha uma vida?<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #999999; font-family: inherit;">Eu torço para que você não passe por essa vida sem se permitir sentir um dos maiores prazeres que a maternidade pode proporcionar<span style="background-color: white; line-height: 16px;">:</span> ver um filho se aconchegar no calor dos seus braços e se render ao sono na segurança do seu colo. Se sentir o porto seguro de alguém completamente entregue, que só precisa que você esteja ali, de corpo e alma. Acordar no meio da noite, olhar para o lado e sentir o cheirinho inigualável que o seu bebê exala enquanto dorme, admirar sua respiração, suas feições enquanto sonha. Há quem deixe momentos como esse passar sem se dar conta de que perdeu algo. </span></div>
</div>
<span style="color: #999999;"><br />
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #999999;"><span style="font-family: inherit;">Compartilhar a cama dos pais com o bebê </span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 16px;">é</span><span style="font-family: inherit;"> mais uma coisa que fomos levados a considerar errado. E caímos feito patinhos. Se fizermos uma rápida avaliação de como a esp</span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 16px;">é</span><span style="font-family: inherit;">cie humana chegou at</span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 16px;">é</span><span style="font-family: inherit;"> os dias atuais, facilmente vamos concluir que não foi dormindo longe dos seus filhotes. Essa coisa de deixar chorar no berço pra aprender a dormir eh coisa de poucos anos, se comparado ao tempo em que os humanos habitam esse planeta. Se os homens das cavernas fizessem isso, o choro do bebê atrairia predadores e eles fatalmente morreriam. E quanto a dormir em quartos separados então, existiam quartos nas cavernas? A mãe carregava a cria junto ao seu corpo durante muito tempo, era uma questão de sobrevivência. Milhares de anos se passaram, somente os bebês que permaneciam em contato corporal constante com a mãe sobreviveram. A</span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 16px;">í</span><span style="font-family: inherit;"> o homem saiu das cavernas, foi morar em casas providencialmente divididas em cômodos e, já que agora estamos em segurança, os bebês podem dormir sozinhos em seu próprio quarto. E aquele serzinho primitivo, com genes naturalmente bem selecionados para que não se separe do corpo de sua mãe, chora desesperadamente pra não ficar a mercê de um predador, ou morrer de frio, ou de fome. A mãe sente que deve </span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 16px;">pegá</span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 16px;">-lo</span><span style="font-family: inherit;">, não quer se separar dele nem, ou principalmente, enquanto dorme. Mas alguém já a preveniu que fazer isso </span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 16px;">é</span><span style="font-family: inherit;"> errado, e inclusive já nomearam a quê estará sujeito seu filho caso ela insista nessa insanidade</span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 16px;">:</span><span style="font-family: inherit;"> "estrago infantil cronico", um mal que assola todas as crianças que são ninadas e colocadas para dormir na cama dos pais. Agora se coloque no lugar de alguém que acabou de nascer, mal enxerga, sente necessidade de contato físico constante pra estar seguro e </span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 16px;">é</span><span style="font-family: inherit;"> deixado num berço em um quarto sozinho, porque, afinal, não podemos acostumar mal o menino. Que sentimento isso traz pro bebê?</span></span></div>
</div>
<span style="color: #999999;"><br />
</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #999999; font-family: inherit;">Se você me pedisse um conselho, somente um, eu diria sem medo de errar<span style="background-color: white; line-height: 16px;">:</span> não deixe seu filho sozinho. Nem pra dormir. Carregue<span style="background-color: white; line-height: 16px;">-</span>o junto ao corpo por todo o tempo que sentir que deve. E só você sabe o quanto deve. Se permita quebrar as regras, leve seu filho pra sua cama quando sentir necessidade. Isso não vai acabar com a sua vida conjugal, eu posso jurar que sexo pode ser feito em outros locais da casa e não somente antes de dormir. Se permita sentir e não pensar. Mais pele, menos cérebro.</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #999999;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span>
</span></div>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3nZs5Q80DFfkbfUx0VikPMbpaxqpAyOy3HmDNrsNM2y_ayf0ZYHFd_ehYE1WYGHt671a_lfgKfzrFKoIpHqHnasGutkuBTLG3VQP96WhWZI7P8HlsH6LM0hgtfDtpzQH_NJ3rFvpvGgc/s1600/cc.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: #999999;"><img border="0" height="215" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3nZs5Q80DFfkbfUx0VikPMbpaxqpAyOy3HmDNrsNM2y_ayf0ZYHFd_ehYE1WYGHt671a_lfgKfzrFKoIpHqHnasGutkuBTLG3VQP96WhWZI7P8HlsH6LM0hgtfDtpzQH_NJ3rFvpvGgc/s320/cc.jpg" width="320" /></span></a></div>
<span style="color: #999999;"><br />
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #999999;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #999999; font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">Tales dormiu em nossa cama ate os 2 anos, mais ou menos. Não sei se coincidentemente, mas foi exatamente durante todo o tempo em que durou a amamentação. Durante os cinco primeiros meses de sua vida, eu insisti em levá-lo para o berço que ficava em outro quarto sempre que terminava de amamentar. Foram as piores noites da minha vida, e tenho certeza que da dele também. Quando nos permitimos deixá-lo dormir a noite toda em nossa cama uma realidade paralela se abriu diante dos meus olhos</span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 16px;">: era possive</span><span style="font-family: inherit;">l amamentar sem nem ao menos acordar. Com o passar do tempo ele foi desenvolvendo a maturidade neurológica que era necessária para dormir a noite toda e começou a se sentir seguro para pedir pra dormir em seu quarto.</span></span></div>
</div>
<span style="font-family: inherit;">
</span>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-65968720867612728772013-10-02T19:13:00.004-07:002013-10-02T19:13:48.112-07:00Eu não quero ajuda!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifzbchgQoiE4-NsD0_XCxaOX9jEy0fscMtxfG8TkLedgeZUTUavM5CtGKedcYmt5odZ1dVnnHOvQuLqATx4jlhpdass-0y1xuiEONkuAm0UVlAv6fjqi9c63fPwSXU2rL5jfMc2l06n5I/s1600/Mafalda+Cooperativa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifzbchgQoiE4-NsD0_XCxaOX9jEy0fscMtxfG8TkLedgeZUTUavM5CtGKedcYmt5odZ1dVnnHOvQuLqATx4jlhpdass-0y1xuiEONkuAm0UVlAv6fjqi9c63fPwSXU2rL5jfMc2l06n5I/s320/Mafalda+Cooperativa.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">“ah, meu marido é ótimo, me ajuda
muito com o bebê e com a casa!”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Se você ainda usa essa frase para
definir seu companheiro, por favor, reveja seus conceitos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Partindo do princípio que ele é o
pai do seu filho e que mora na mesma casa que você, que suja roupas, louças,
come, bebe e dorme, eu preciso te dizer que ele não faz mais que a obrigação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Tente assim: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">“ele é um ótimo marido e um ótimo
pai, dividimos as tarefas domésticas e os cuidados com o bebê”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Bem melhor, né?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Acredito que cada casa tenha uma
dinâmica diferente, cada pessoa tem aptidões diferentes e que, dentro do
possível, devem ser respeitadas. Se eu cozinho bem, eu preparo o jantar. Se eu
não gosto de acordar cedo, deixo as crianças por tua conta nas manhãs de
domingo. Tudo é um combinado. Mas precisa haver um combinado. Se não for
explícito, é natural que a mulher tome as rédeas e abrace todas as tarefas. E
não porque ela é uma burra e gosta de se sacrificar, mas porque fomos ensinadas
assim. Ninguém precisa falar que é a nossa obrigação, corre nas nossas veias
uma educação patriarcal, na qual para o homem basta existir para ser digno de
ser servido. Se a gente não pára pra pensar, continua reproduzindo um sistema
de forma automática. Um sistema que nos poda, que nos diminui, que nos
escraviza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">A mulher precisa relembrar dia
após dia que o papel do homem é muito mais do que fornecer espermatozóides para
fecundar um óvulo. É obrigação dele, igualmente como é sua, a criação desse
filho. E deixar isso claro facilita muito as coisas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Aqui em casa já tivemos altos e
baixos. Hoje podemos dizer que vivemos <st1:personname productid="em harmonia. O Julio" w:st="on"><st1:personname productid="em harmonia. O" w:st="on">em harmonia. O</st1:personname> Julio</st1:personname>
é perfeitamente capaz de fazer todas as tarefas de casa, isso já foi necessário
enquanto eu hibernava no começo da minha segunda gestação e sobrevivemos muito
bem. Quanto aos cuidados com o Tales, nunca precisei relembrá-lo da sua função
de pai. Sempre trocou fralda, deu banho, levou e buscou na escola, enfim, foi o
pai que se esperava que fosse. Nunca me ajudou, sempre fez o que deveria ser
feito e sempre teve a consciência de que era o seu papel e não um favor que ele
fazia pra mim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Muita gente ainda se espanta
quando descobre que lá em casa quem cuida das roupas é o Julio. Isso é tão
natural pra gente que acredito que o Tales vai se espantar quando ele perceber
que em algumas famílias não funciona dessa forma. <o:p></o:p></span></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-39511280056158088332013-10-02T11:48:00.000-07:002013-10-04T17:55:41.793-07:00E por quê não?Em um fim de tarde estávamos passeando no shopping. Aquela cena clássica, os
três de mãos dadas, Julio, Tales e eu, nesta ordem. Tales estava animado com
o passeio e, por isso, começou a dar saltinhos ao invés de andar. Subitamente
eu falei:<br />
<br />
- Pare, Tales! Ande direito.<br />
<br />
O Julio
perguntou:<br />
<br />
- Ué, por quê?<br />
<br />
Pois é, por
quê?<br />
<br />
Por que sim? Por que eu mando? Por que ele
é criança e tem que me obedecer? Por que ele precisa de limites? Por quê? Por
quê? Por quê?<br />
<br />
Não existia um
motivo.<br />
<br />
- Desculpa, Talinhos... pode andar do jeito
que você achar mais divertido, continue pulando se
quiser.<br />
<br />
Qual é o motivo que nos leva a dar ordens
aos filhos sem a menor necessidade? Depois desse dia fiquei observando as
minhas atitudes e é incrível o número de vezes que eu dizia “não” sem motivo.
Ou que eu o mandava fazer ou parar de fazer alguma coisa sem que
precisasse.<br />
<br />
Às vezes parece que o não dito pelos pais tem
um poder salvador imediato, é livre de qualquer erro e sempre é com a
desculpa de se estar educando. Ai, porque “dizer não é um ato de amor”. Ok,
reconheço a importância do não no momento certo, mas a gente consegue
enxergar quando é o momento certo vivendo assim no piloto automático? Ou uma
ordem dada pelos pais é isenta de qualquer juízo de valor, quando dizemos não, é não e pronto, nem precisamos de motivos?<br />
<br />
É muito
tirano pensar dessa forma. Quero um filho que pensa sobre os seus atos, que
toma decisões. Que respeita regras, claro, mas que pensa sobre elas, não as
obedece cegamente. Mesmo que elas venham de mim. Sou humana, me permito
errar.<br />
<br />
Quero que o “não” tenha um sentido diferente
na educação dos meus filhos, que ele seja respeitado quando for legítimo, e
por isso eu comecei a evitar usá-lo desnecessariamente. Lá em casa agora o
“não” só é usado acompanhado de um motivo que o justifique. Não quero criar
robôs, quero crianças que aprendam na tentativa e
erro.<br />
<br />
A vida já é feita de tantos “nãos” reais.
Eu escolho não inventar outros.Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-37805337055949326042013-09-24T16:30:00.000-07:002013-09-24T18:20:16.909-07:00AmaMentAçãoEu devo muito à amamentação. Ao mesmo tempo em que eu nutria meu filho, eu nutria a minha alma. Da minha história de gestação, parto, puerpério, criação de filho, inegavelmente a amamentação foi o momento que mais me aproximou da minha natureza de mamífera, de fêmea, de mulher. Foi o momento em que eu só dependia de mim e de mais ninguém. Eu não tinha conhecimento, agia por instinto. Eu não pensava, eu sentia. E considero que foi por isso que deu tão certo.<br />
<br />
Claro que eu não teria ido tão longe sem apoio. Apoio daquele que, sempre que eu sentava para amamentar, vinha com a minha garrafa d’água, com um paninho de boca, com uma almofada, ou só com um sorriso que fosse. Daquele que sempre demonstrou seu desejo de participar de forma mais ativa, mas entendia e respeitava aquele que era um momento mãe-filho. Daquele que me incentivava a abrir a blusa e sacar o peito para alimentar nosso bebê em qualquer lugar que estivéssemos, sem precisar me esconder. Daquele que me apoiou a continuar amamentando mesmo grávida. Aquele que se fez ainda mais presente quando chegou o momento de entrar em cena e me ajudar com o desmame.<br />
<br />
Quem vê uma mãe que amamenta, não imagina quanta insensatez chega até ela. Quanta cobrança, quanto comentário, quanto julgamento, quantos olhares. Assim como quem vê uma mãe que não conseguiu amamentar, não imagina o que ela passa. Parece um contra censo, mas as duas sofrem muita pressão. O que querem de nós, afinal?<br />
<br />
Querem que a gente amamente, mas querem que estejamos sempre lindas e dispostas, mesmo que o bebê mame a noite inteira sem trégua durante meses a fio.<br />
<br />
Querem que a gente amamente exclusivamente no peito por 6 meses, mas nos dão licença maternidade de 4 meses. (não foi o meu caso, ok, mas é o da maioria)<br />
<br />
Querem que a gente amamente, mas não cansam de dizer que “esse menino tá muito apegado a você, mas também, mama o tempo todo”<br />
<br />
Quererem que a gente amamente, mas que dê também a mamadeira, pro pai poder se sentir incluído e o bebê não ficar tão apegado. Mas não te dizem que a mamadeira faz o bebê largar o peito.<br />
<br />
Tenho muito orgulho da minha história de amamentação. É muito gratificante ver que meus seios cumpriram a sua função mais primitiva, a de nutrir meu filho. De saber que o vínculo que nós temos em função dessa troca vai perdurar por muito tempo, quiçá nunca se desfaça. De saber que eu estive disponível durante todo o tempo que meu filho precisou, que por um bom tempo já não era mais para matar a fome, era só um aconchego, uma troca de energia, e que eu respeitei essa necessidade dele. Que talvez o desmame não tenha sido totalmente natural, já que foi orientado por mim, mas que foi respeitoso. Saber que não fui contra meus instintos, não ouvi os conselhos que recebi para desmamá-lo abruptamente, usando técnicas cruéis. De me sentir digna por saber que, mesmo não agradando a todos, fiz o meu melhor. Dei pro meu filho o que eu tinha de melhor dentro de mim. Foram 2 anos, 1 mês e 6 dias de amor líquido.Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-44079657838014487782013-09-24T06:44:00.001-07:002013-09-24T16:42:31.565-07:00O parto, ou o não parto<span style="font-family: inherit;">Tales nasceu de uma cesárea não desejada. Não desejei essa cirurgia, mas não movi um músculo para evitá-la. Sim, optei por não me informar, optei por não querer saber, optei por deixar pra ver na hora, optei por deixar o médico decidir. Talvez por isso eu não me permita sentir culpa alguma, foi uma opção. Por medo, eu escolhi não pensar.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Durante a gestação, o medo do parto me dava calafrios. Eu me imaginava deitada em uma cama, pernas penduradas, um médico empurrando minha barriga e outro puxando meu bebê. É o que a gente vê nas novelas, é o que a maioria das mulheres que eu conhecia relatava, é como aprendemos a acreditar que é. Hoje sei que poderia ter conhecido formas bem mais humanas de se parir, mas o medo que eu sentia não me deixava analisar alternativas. Foi uma opção.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Conscientemente eu sabia que o parto normal era a forma mais correta de se nascer, afinal eu havia estudado biologia na escola. Mas eu tinha medo. Eu não tinha inteligência emocional alguma pra lidar com aquele sentimento, eu preferia ignorá-lo. Quando me perguntavam se eu ia ter um parto normal eu respondia “vou tentar” com o sorriso mais amarelo do mundo.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Nunca fui daquelas que já nasceram com o sonho de parir. Nunca havia pensado nisso antes de engravidar. Confesso que até pouco tempo atrás eu considerava o parto como algo irrelevante, nada mais do que um meio para se chegar a um fim. Continuo achando q não é esse momento que te faz mais ou “menas” mãe. O buraco por onde o bebê vai sair, pra algumas pessoas, é mesmo irrelevante. Não é exatamente essa a questão. A questão é muito mais ampla e aqui muita gente vai discordar de mim, o que eu compreendo perfeitamente, pois eu já estive do lado de lá e sei o que se passa na cabeça de quem considera que o importante é somente o bebê nascer bem. A questão é o protagonismo do momento, a consciência de que temos a capacidade de parir, a noção de que nosso corpo é perfeito e que faz tudo sozinho, se dermos a oportunidade. É saber que somos capazes, que somos feitas pra isso. Que a dor está muito mais ligada ao seu lado emocional do que propriamente ao seu corpo físico. Que as sombras que você carrega são capazes de te atrapalhar muito mais do que você imagina. Que o parto está intimamente ligado ao ato sexual, que é o ápice da maturidade sexual da mulher. Que a sua relação consigo mesma, com seu corpo, com seu eu interior, com a sua feminilidade, com os seus ciclos, podem ir a favor ou contra você. E aí inclua também a sua relação com a sua mãe, que certamente foi a primeira mulher com quem você teve contato e que te influenciou positiva ou negativamente com relação ao seu corpo.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Além disso, estamos inseridas em uma sociedade doente que nos prepara dia após dia para aceitar que somos defeituosas, que nosso corpo não funciona perfeitamente, que não estamos preparadas para parir. Desde sempre a mulher deu a luz sozinha, em casa, com o apoio de outras mulheres da família. Precisavam nos fazer desacreditar deste poder natural e, como defeituosas que somos, precisaríamos deles, os homens (médicos), para dar a luz. Não demorou muito para que nos esquecêssemos da nossa força. Começamos a usar hormônios sintéticos, as pílulas anticoncepcionais, que têm uma importância histórica inegável, mas que nos fazem perder uma das propriedades mais notáveis da mulher: ser cíclica. Podemos não menstruar, e isso é incentivado, afinal menstruar é sujo, atrapalha a rotina, não traz benefício algum. Para uma sociedade capitalista, uma mulher não é importante se não for produtiva. E como ser produtiva sendo instável? Necessitando de certo “recolhimento” uma vez por mês? Muito melhor são aquelas que perderam essa característica tão peculiar das fêmeas, aquelas que se assemelham cada vez mais aos homens. Incomodam menos, produzem mais. Então, interrompemos a menstruação, adiamos a gestação e permitimos que eles se tornassem os protagonistas no nascimento dos nossos filhos, já totalmente convencidas da nossa falta de capacidade. Pronto, nos desconectamos totalmente da nossa essência feminina.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Durante um tempo, ter passado por uma cesárea me fez pensar que meu corpo não funcionou como deveria ter funcionado. Ele falhou. Aí vinha a pergunta: O que eu tenho de errado? Como eu disse, parir nunca foi um sonho de infância, eu achava que a cesárea não seria algo que efetivamente tiraria meu sono, mas a pulga estava sempre ali, bem atrás da orelha. Talvez se eu simplesmente culpasse o médico, fosse mais cômodo pra mim. Mas isso não me parecia honesto, de certa forma eu dei a permissão para que ele decidisse por mim, sem questionar. Ok, era pra ser uma relação de confiança mútua entre paciente e médico, hoje tenho consciência de que um dos lados não honrou essa confiança, e não foi o meu. Mas só achar culpados não responderia as minhas perguntas. Eu precisava olhar pra dentro e me encontrar.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Hoje eu sei que quem falhou não foi o meu corpo, mas a minha mente. Eu não sabia, mas eu era o perfeito produto do meio em que eu vivia. Eu não me conhecia, não conhecia meus ciclos, não entendia a beleza que envolve todo o universo feminino. Achava que menstruação era um sangramento chato e sujo que servia pra me mostrar que eu não estava grávida. Só. Que a TPM que me deixava péssima todo mês era só falta de autocontrole. Que se eu não pensasse sobre algo que me dava medo, talvez o medo sumisse. Que se eu confiava no meu médico, eu deveria deixar para ele decidir o que era melhor para mim e para o meu bebê. Eu me sabotei. Eu era mais uma mulher ignorando o seu lado feminino selvagem para se adaptar ao que a sociedade moderna exige, e o resultado não poderia ser diferente.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Depois de muita reflexão, me tornei amiga do medo que me fez bloquear toda chance que teria de me informar e sair da matrix. Um medo do desconhecido, medo da dor, medo da violência. Hoje sei de onde veio esse medo e, bem lá no fundo, encaro a minha cesariana como uma oportunidade de me encontrar com ele. De me encontrar comigo. Talvez se eu tivesse tido um parto normal eu sequer parasse para pensar nesse medo, pois muito provavelmente eu achasse que o havia superado. E talvez eu continuasse sendo aquela mulher infantilizada, que não pensava sobre sua feminilidade, não conhecia o poder do seu corpo, não conhecia a beleza e a perfeição de ser mulher. Ou talvez eu só esteja querendo aceitar o que não dá pra mudar, afinal, a negação não deixa de ser um mecanismo de defesa.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Foi muito doloroso descobrir que minha cesárea não foi necessária, que meu bebê não estava em sofrimento, que eu fui enganada. Ouvir de outro obstetra a frase: “roubaram teu parto, Vanessa” foi, sem dúvida, o episódio mais cruel da minha breve caminhada como mãe. Saber que meu bebê poderia não ter respirado, poderia ter tido seqüelas por ter nascido com 37 semanas, e que eu fui co-responsável por isso me dói na alma. Eu não me culpo, eu me arrependo.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Eu tento a cada dia usar minha experiência de uma cesárea não desejada para compreender muita coisa relacionada à minha essência feminina. É evidente que não foi somente esse acontecimento que me fez olhar para dentro, foi a maternidade como um todo. Mas é como se essa fosse a última peça do quebra cabeça que faltava para que eu conseguisse ver a imagem completa.</span>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5992552548088849570.post-58219274577433475332013-09-17T07:33:00.000-07:002013-09-24T16:41:57.673-07:00Do começo de tudo<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">Quando eu me tornei mãe, alguma
coisa no meu cérebro mudou. Na gravidez demorei a me acostumar com as mudanças no meu corpo, me sentia enorme, desajeitada, mas exibia o barrigão com
o maior orgulho do mundo. Tinha medo do parto, medo de amamentar, medo, medo, medo. E quando o bebê chegou, todos aqueles medos foram transformados em insegurança na prática. Eu não sabia ouvir minha
intuição ainda, nem sabia que tinha esse nome aquele sentimento que eu insistia
<st1:personname productid="em contrariar. Tive" w:st="on">em contrariar. </st1:personname></span><st1:personname productid="em contrariar. Tive" style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;" w:st="on">Tive</st1:personname><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">
saudade da barriga, de ser o centro das atenções, de ganhar comida de presente,
de ser elogiada diariamente. As primeiras semanas... ah, as primeiras
semanas... O bebê, aquele serzinho encantador pelo qual eu daria a vida desde o
primeiro ultrassom, não saia do circuito
acorda-chora-mama-dorme-acorda-chora-mama-dorme, e eu exausta e culpada por ter
vontade de chorar junto com ele. A tristeza profunda e a alegria extasiante se
misturavam de um jeito que eu tinha certeza que estava ficando louca. A
ocitocina saindo pelos poros tornava a vida muito mais colorida, mas logo vinha
a vontade de chorar até acabar as lágrimas. Alguém em algum momento me disse que pra ser
mãe a gente tem que deixar morrer uma parte de nós pra deixar nascer outra. E
que temos o direito de chorar essa perda, chorar de saudade da pessoa que
fomos, saudade das noites inteiras que dormíamos, saudade de ser dona do nosso
tempo, saudade da sensação de liberdade. Mas a pessoa que está nascendo agora é
muito mais forte, mais madura, mais inteira. Logo a saudade daquela que se foi
vai embora e o que fica são só pequenas lembranças de um tempo que você não
quer mais que volte, por melhor que tenha sido. Eu agora sou outra pessoa, uma
pessoa que não se encaixa mais naquela vida. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">E é sobre
essa nova vida que vou escrever aqui. Sobre minhas experiências como mãe,
minhas opiniões, minhas expectativas e meus resultados. </span></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/04545374553495830104noreply@blogger.com2