sábado, 25 de janeiro de 2014

Carta de uma mãe para o seu primogênito



Tales,

Em alguns dias você deixará de ser filho único e se tornará irmão mais velho, um posto que você vai ocupar pelo resto da vida. Durante pouco mais de dois anos fomos só nos três, eu, você e seu pai. Nesse período aprendi a ser mãe por tentativa e erro e você foi a cobaia dessa experiência. Sou feliz pela pessoa que me transformei por meio de você e te serei grata por isso eternamente.

Logo vamos trazer pra casa um bebê com quem você precisará dividir minha atenção. Durante algum tempo ele não vai se mostrar muito interessado em você, mas eu garanto que isso vai mudar e você vai ganhar um amigo em potencial.

Eu sei que só o laço de sangue não é uma garantia de que vocês vão se dar bem, mas, acredite, isso não é o mais importante. Tendo um irmão você terá alguém com quem dividir todas as alegrias e as tristezas de ter nascido nessa família. Alguém com quem dividir todas as pesadas projeções que os pais fazem para a vida dos filhos, mesmo sem querer. Alguém para ajudar a guardar as lembranças da infância que vocês viverão juntos. Alguém com quem dividir a inevitável dor que vocês sentirão quando seu pai e eu não estivermos mais com vocês.

Talvez eu nunca consiga retribuir toda a riqueza que você me trouxe ao me permitir ser tua mãe, mas nesse momento a melhor coisa que posso fazer por você, meu filho, é ter outro filho.

Um beijo,

Vanessa

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Como passar de uma figura angelical para uma bomba relógio em um dia

Hoje, 40 semanas e 6 dias da minha segunda gestação. Fisicamente, me sinto enorme, mas ainda assim bem disposta. Psicologicamente, gostaria de estar mais forte.

Ter um final de gestação digno era uma coisa que eu queria muito, já que na minha gestação anterior eu pulei essa parte. Saí de casa para uma consulta de rotina com 37 semanas e voltei dois dias depois com um filho no colo. Não tive tempo de ficar ansiosa, de ficar inchada, de receber ligações diárias de gente querendo saber se já nasceu. Nada do que pra maioria é insuportável consegue ser nem desagradável pra mim nesse momento. Eu queria muito viver isso.

Mas parece que a 40ª semana é uma data cabalística em que você deixa de ser uma figura angelical e vira uma bomba relógio. Por mais que a gente saiba que gestações humanas podem ir ate 42 semanas, precisamos ficar entoando internamente o mantra "cada dia a mais é um a menos". É fácil se perder nessa hora, confesso. Especialmente se você não estiver cercada de pessoas que acreditam em você e no poder do seu corpo. Alem, obviamente, de estar sendo acompanhada por um obstetra verdadeiramente humanizado e que acredite que o parto é um evento fisiológico e não cirúrgico. O que tem me ajudado muito nessa fase tem sido ouvir palavras de conforto de quem já teve experiências boas de parto. Porque é muito fácil pirar e agendar uma cesárea. Mais do que nunca, não julgo quem o faça.



Logo eu que sempre fui daquelas que, pra se sentir segura, precisava estar no controle de tudo. E agora me vejo aqui, totalmente entregue ao acaso, a um tempo que não é meu, que eu não posso controlar. Que eu não quero controlar.

Eu tento administrar a ansiedade pensando: bebês nascem! Sim, nascem. E, em condições normais como as que eu me encontro, se ninguém intervir, eles nascem naturalmente. É só uma questão de tempo. E de conseguir se convencer disso.


Hoje tive outra consulta do pré-natal. Nenhuma novidade, tudo sob controle. E meu obstetra continua me encorajando a esperar, somente esperar. "Confie no seu corpo, não queira apressa-lo", diz ele ao me ver ansiosa. E eu sigo confiando.