Durante um bom tempo da minha vida eu imaginei que seria uma executiva.
Que viveria em função do dinheiro, do trabalho, do poder. Me imaginava num
cargo importante, me imaginava vestindo tailleur, me imaginava tendo uma
secretária. Em almoços de negócios, reuniões em que eu falaria inglês, viagens
a trabalho.
Aí o tempo passou.
E hoje, me vendo aqui deitada há horas ao lado de duas criaturinhas
adormecidas que exalam um cheirinho de suor digno de ser engarrafado como
perfume, pelas quais eu sou capaz de matar e morrer, não consigo parar de
pensar no quanto a vida da gente dá voltas.
Nós não temos mais dinheiro do que precisamos, nosso carro é popular,
moramos numa casa antiga e financiada. Não temos planos de viajar pro exterior,
só compramos roupas em promoção, não somos sócios de um clube. Eu provavelmente
vou me aposentar trabalhando na mesma repartição, ganhando o mesmo salário. Não
temos grandes ambições. A Vanessa de uns 10 anos atrás me acharia a maior
perdedora. E, quer saber? Tudo bem.
Hoje temos coisas que eu jamais imaginava que teriam tanto valor: temos
todas as manhãs livres, fazemos todas as refeições juntos, uma pizza e
um vinho bastam pro sábado a noite. Temos bons amigos sempre em casa, temos
filhos sendo cuidados por pessoas em quem confiamos, temos um casamento
saudável. Temos uma cama enorme em que, vez ou outra, dormimos os quatro
juntos. Temos um abraço silencioso quando tudo desanda. E isso, pra Vanessa de
hoje, basta.
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