Uma farsa. Era isso que eu me
sentia, uma mentira. Eu nunca acreditei que escola é o lugar ideal para uma
criança pequena. Rotina rígida, horário fixo, obrigação de ir todos os dias
para o mesmo lugar, não era o que o meu filho precisava nessa idade. Essa era
uma obrigação social minha, que eu assumi por livre vontade quando resolvi
trabalhar fora. Ele não. Ele não escolheu isso, nem precisava disso, era algo
que eu impus a ele por falta de opção. Isso sempre esteve muito claro pra mim,
já até falei sobre isso aqui.
Aí eu engravidei do Otto. Aí o
Otto nasceu e cá estou eu, em casa o dia todo, de licença maternidade. E a
farsa começou.
Eu sempre quis ficar em casa cuidando
dos meus filhos em tempo integral, nunca escondi de ninguém esse meu desejo.
Trabalho fora por dinheiro, se me pagassem o que eu ganho pra ser só mãe eu
topava fácil. Mas agora eu estava em casa e continuava levando o Tales pra
escola. Contra tudo o que eu acredito e, pior, contra a vontade dele. Faça o
que eu digo, não faça o que eu faço. Eu era uma fraude.
E não estava fácil levar adiante.
Todos os dias, desde a hora de colocar o uniforme era choro. Era choro e pedido
para não ir pra escola. Era choro pra entrar no carro, era choro pra sair do
carro, era choro pra entrar na escola. Era eu chorando em casa sozinha o resto
do dia. Era eu tentando me acostumar com o que me matava por dentro. Eu sabia
que precisava fazer alguma coisa.
Os conselhos chegavam de todos os
lados:
“Não ceda, ele está te
manipulando”
“Toda criança chora, é normal,
logo ele acostuma”
“Ele tá com ciúmes do irmãozinho,
o meu também passou por isso, nem ligue”
“Criança não tem querer, escola é
obrigação”
Eu tenho péssimas lembranças de
escola na minha primeira infância. Não lembranças de fatos em si, mas de
sentimentos. Angústia. Solidão. Só de pronunciar o nome da escola que eu
frequentava quando era bem pequena me dá um nó no estômago. Já da escola que eu
fui quando era um pouco maior (uns 4 anos) eu tenho ótimas lembranças.
Na ânsia de achar “culpados” fui
atrás de outra escola, tentando me convencer que o problema era aquela escola.
Quem eu queria enganar? Conheci uma escola linda, com uma pedagogia
diferenciada (waldorf), mais leve, aconchegante, com cara de casa de vó, fiquei
super animada. Passamos algumas semanas analisando, tentando tomar uma decisão
em meio a muito choro. O Julio foi contra mudar de escola. Voltamos à estaca
zero.
Um dia o Tales falou uma frase
que me fez ver que aquele embrulho no estômago que eu ficava depois de levá-lo
chorando pra escola era o melhor indicador de que eu estava errando, e errando
muito. Eu estava trocando a fralda do Otto, que chorava. O Tales chegou perto
dele e disse:
“Pare de chorar, neném... senão
você vai pra escolinha, heim?”
Aquilo foi o tapa na cara que eu merecia. O
que eu estava fazendo? Pro Tales, escola era punição.
Marcamos uma reunião com a pedagoga
da escola. Fui com 5 pedras na mão, esperava ouvir conselhos no mesmo estilo
dos que eu já vinha ouvindo dos outros. A conversa começou com faíscas, com
frases no estilo “crianças são espertas, elas te manipulam”. Taquei minhas
primeiras pedradas. Aos poucos a conversa foi tomando outro rumo, menos institucional
e mais humana. Menos cérebro e mais coração. Menos pedagógica e mais materna. Fomos
acolhidos, apoiados, compreendidos. Saímos de lá com o apoio que precisávamos
para tirar o Tales da escola com a tranquilidade de que ele poderá voltar no
ano que vem, se quisermos.
E assim está nossa vida agora, de
cabeça pra baixo com 2 crianças em casa. Como vai ser daqui pra frente? Não
sabemos muito bem. Mas sabe aquele embrulho no estômago? Sumiu.
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