Em um fim de tarde estávamos passeando no shopping. Aquela cena clássica, os
três de mãos dadas, Julio, Tales e eu, nesta ordem. Tales estava animado com
o passeio e, por isso, começou a dar saltinhos ao invés de andar. Subitamente
eu falei:
- Pare, Tales! Ande direito.
O Julio
perguntou:
- Ué, por quê?
Pois é, por
quê?
Por que sim? Por que eu mando? Por que ele
é criança e tem que me obedecer? Por que ele precisa de limites? Por quê? Por
quê? Por quê?
Não existia um
motivo.
- Desculpa, Talinhos... pode andar do jeito
que você achar mais divertido, continue pulando se
quiser.
Qual é o motivo que nos leva a dar ordens
aos filhos sem a menor necessidade? Depois desse dia fiquei observando as
minhas atitudes e é incrível o número de vezes que eu dizia “não” sem motivo.
Ou que eu o mandava fazer ou parar de fazer alguma coisa sem que
precisasse.
Às vezes parece que o não dito pelos pais tem
um poder salvador imediato, é livre de qualquer erro e sempre é com a
desculpa de se estar educando. Ai, porque “dizer não é um ato de amor”. Ok,
reconheço a importância do não no momento certo, mas a gente consegue
enxergar quando é o momento certo vivendo assim no piloto automático? Ou uma
ordem dada pelos pais é isenta de qualquer juízo de valor, quando dizemos não, é não e pronto, nem precisamos de motivos?
É muito
tirano pensar dessa forma. Quero um filho que pensa sobre os seus atos, que
toma decisões. Que respeita regras, claro, mas que pensa sobre elas, não as
obedece cegamente. Mesmo que elas venham de mim. Sou humana, me permito
errar.
Quero que o “não” tenha um sentido diferente
na educação dos meus filhos, que ele seja respeitado quando for legítimo, e
por isso eu comecei a evitar usá-lo desnecessariamente. Lá em casa agora o
“não” só é usado acompanhado de um motivo que o justifique. Não quero criar
robôs, quero crianças que aprendam na tentativa e
erro.
A vida já é feita de tantos “nãos” reais.
Eu escolho não inventar outros.
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